Saiba identificar quando uma criança precisa da ajuda de um profissional

Criança recebendo ajuda de um psicoterapeuta

Uma cena bastante comum

O objetivo de todos nós era apenas comprar algumas delícias para o café da tarde. Aquela padaria era uma das melhores opções. Andávamos pelos corredores observando o que mais nos agradava, entre coisas saudáveis e não saudáveis, fascinados pelos cheiros e cores que nos seduziam. 

De repente uma criança, entre seus três ou quatro anos de idade, tirou completamente a paz do lugar. Com choro estridente, tentava agredir a uma jovem mãe que se encontrava na fila do caixa. Aos berros dizia: “eu quero! me dá! feia! nojenta. Eu vou comprar outra mãe, não gosto mais de você.”

O rosto da jovem ficou pálido, uma mistura de vergonha e desespero transformaram o seu semblante. Com muita dificuldade ela conseguiu pagar as compras e caminhar para o carro estacionado em frente ao estabelecimento, sendo puxada e arranhada pelo filho aos prantos. 

Criança fazendo birra no estacionamento

Quando cheguei à calçada vi a criança ainda do lado de fora do carro se negando a entrar, sapateando e gritando. A jovem mãe permanecia de pé ao lado do carro, já nem insistia para que o pequeno entrasse. Estava debruçada sobre o teto do veículo, com a cabeça baixa, apenas observando a criança com o olhar fixo em total exaustão.

Meu olhar de terapeuta me permitiu ver imediatamente que aquela criança precisava de ajuda.

Os sinais de que a criança pode precisar de ajuda

Quando falamos em crianças, a primeira coisa que precisamos entender é que elas ainda não são capazes de decidir sobre suas ações e escolhas, portanto precisam ser direcionadas. Elas ainda não têm o superego formado, ou seja, não têm dentro de si a capacidade psíquica de impor a si mesmas os limites necessários à vida em sociedade. Esta limitação precisa vir de fora para dentro, dos adultos que a educam. Elas ainda não possuem a capacidade de se colocarem no lugar do outro, não desenvolveram empatia suficiente para frear a sua busca por satisfação. Se você vir crianças que apresentam os seguintes sinais:

  • Comportamento agressivo em relação aos pais, familiares e cuidadores;
  • Negar-se a comer o que lhe é dado, aceitando se alimentar somente com o que quer e onde quer, sem aceitar ficar à mesa ou no seu local de refeições;
  • Fazer pirraça por tudo que deseja com choros convulsivos e sem controle;
  • Negar-se a dormir nos horários determinados;
  • Se auto-agredir;
  • Agredir a outras crianças com frequência;
  • Regredir a idades anteriores adotando voz infantil, voltando a fazer xixi na cama e/ou a usar mamadeira novamente.

Não as julgue, muito menos julgue seus pais. São sinais de que precisam de ajuda de um profissional. 

Comportamento agressivo, pirraça constante, nega-se a comer aquilo que os pais oferecem 

Estes podem ser sinais de que limites não estão sendo colocados pelos pais e familiares. Quando a criança não recebe limites claros, contrariamente ao que o senso comum pode nos deixar pensar, ela não fica feliz ou empolgada com a possibilidade de fazer o que quer, pelo contrário, ela tende a adoecer psicologicamente pois vive sensações de profunda angústia porque seus impulsos não foram contidos. 

E é na busca por receber essa contenção que ela vai expandindo seus limites cada vez mais. É como se ela gritasse aos quatro cantos:

“Por favor, mãe, pai, tios, professores, parentes, alguém me contenha e me mostre como me devo me comportar, me ensine quais impulsos seguir e quais ignorar, eu preciso desses limites!”

Ela precisa de uma figura forte que lhe mostre os seus limites. Quando isto não acontece ela sofre, se angustia. Sem saber como lidar com esse sentimento torna-se cada vez mais agressiva e tirânica.

Adota comportamentos de idades anteriores, fazendo xixi na cama, voz infantil ou perdendo parte da autonomia já desenvolvida

Por mais impressionante que possa parecer, esses comportamentos normalmente não ocorrem porque “seu filho está se desenvolvendo mais lentamente do que outros”. Não! A causa está em outro ponto que é preciso trabalhar em conjunto com o psicoterapeuta:

A criança está buscando por atenção.

Há crianças que, mesmo depois de terem aprendido a comer com talheres, regridem e começam a comer com as mãos e fazer uma bagunça tremenda durante as refeições. Há pais que se desesperam, não sabem o que fazer. A resposta é simples: ela está clamando por limites o tempo todo. Claro que vem a pergunta: 

  • Quais limites? 
  • Em relação a quê?
  • Como colocar limites em uma criança que nunca os teve?
  • Que tipos de atitudes nós, como pais, temos que modificar?

Aqui se tem mais uma clareza da necessidade de ajuda, não só da criança mas também dos pais. Essas perguntas são respondidas em consultório, caso a caso. É um trabalho belíssimo feito entre terapeuta, criança e pais que faz com que conheçamos mais a nós mesmos como pais e nos aprofundemos nas necessidades de nossos filhos, sem extrapolarmos para além do necessário.

Criança chorosa, ansiosa e/ou que roe unhas, insegura

Contrariamente ao estado anterior, esses são traços de uma criança limitada em demasia. Ela pode também apresentar um comportamento agressivo mas apenas em alguns momentos e é comum observar um choro profundo e doído, diferente do choro da criança que busca por limites. Apresentará quadros constantes de ansiedade e muitas vezes concomitante com oncofagia (hábito de roer as unhas).

Poderá também se auto-agredir, porém o fará às escondidas pois esta auto-agressão não será para ser limitada ou chamar atenção, mas sim como um caminho de alívio de sua dor interna através da dor física.

Crianças criadas com muita rigidez recebem poucos elogios e muitas críticas. São cobradas o tempo todo e impedidas de usufruírem de suas vontades e satisfazerem seus menores desejos. Adoecem por falta de prazer e se limitam a limitar-se constantemente para serem aceitas. Quando isto se torna impossível os comportamentos falam por elas. 

O que podemos perceber nesses momentos é que elas estão na verdade deprimidas a tal ponto que derramam-se nesses comportamentos. É preciso ressaltar que os sinais de depressão nas crianças muitas vezes são diferentes da apatia que observamos nos adultos. Pode-se observar:

  • Agitação constante;
  • Agressividade contra os familiares e professores;
  • Auto-agressão;
  • Verborragia (crianças que falam demais);
  • Falar palavrões demasiadamente.

Mudança brusca de comportamento e humor, tristeza profunda

Esse tipo de comportamento pode ter uma causa mais séria. Observem bem os seus seus filhos. As crianças têm uma certa dinâmica comportamental que é constante. Lógico que há algumas variações de humor mas, elas logo voltam à sua “maneira natural de ser”. Elas têm o seu jeitinho que nós pais entendemos apreciamos e outras vezes desejamos modificar. Se a sua criança apresenta :

  • Mudança brusca de comportamento;
  • Mudança de humor;
  • Tristeza profunda.

Pode estar acontecendo algo sério com ela. Tente falar com ela e busque ajuda. Ela pode estar sofrendo algum tipo de abuso. Crianças em situações de abuso se fecham e entristecem porque sentem-se acuadas e culpadas. Procure ajuda de um profissional.

Choro aos finais de domingo ou antes de ir para a escola

Podem ser sinais típicos de crianças que estejam sofrendo bullying (assédio moral). Apresentará choro principalmente aos finais de domingo ou antes de ir para a escola. Poderá até mesmo sentir dores de barriga ou ter febre nesses momentos.

As crianças sempre nos darão sinais de seu sofrimento. O importante é estarmos atentos aos sinais e abertos inclusive a possibilidade de sermos nós, com nossos comportamentos equivocados, os responsáveis por seu adoecimento. Mais importante ainda é estarmos dispostos a mudar para que cresçam saudáveis e se tornem adultos felizes.

Todos os pais precisam de ajuda, mas são poucos os que admitem

Há uma necessidade íntima de acertarmos na criação dos nossos filhos em todos os campos. Ter filhos “perfeitos” é o objetivo por trás do nosso esforço, mas lá no fundo sabemos que isto é impossível.

Aceitarmos esta impossibilidade nos leva a uma sensação de impotência e derrota, por isto é tão difícil enxergarmos e principalmente admitirmos quando falhamos. Entretanto, precisamos entender que é impossível acertarmos sempre pois somos falhos por também termos tido pais que falharam em nossa formação, afinal a imperfeição está em todos nós. O importante não são as nossas ações, elas não são boas nem más o que as torna corretas são as intenções por trás delas. E nós sabemos que tudo que fazemos em relação aos nossos filhos, o fazemos com boas intenções.

Admitir que precisamos de ajuda é um enorme sinal de amor em relação aos nossos filhos, é sinal de sabedoria, não de limitação.

Conclusão

As análises que faço neste artigo são todas preliminares e têm o objetivo de dar luz aos pais de crianças que necessitam de ajuda. As situações reais são sempre mais complexas e podem envolver diversos tipos de aspectos em um caso apenas, por isso é sempre necessária uma análise clínica da criança na presença dos pais para que o auxílio venha da melhor forma possível e os resultados positivos no comportamento da criança sejam observados rapidamente. 

Aos pais que estejam vivendo essas situações, saibam que há sim uma luz no fim do túnel. A criança não é assim porque “tem uma psicologia própria e difícil” mas sim porque não recebeu ainda o auxílio necessário para tornar-se mais equilibrada, compassiva e capaz de vivenciar as realidades da vida.

Busquem ajuda profissional. No meu consultório tenho disponibilidade de horários especiais para crianças que precisam de ajuda, isso porque sou apaixonada por esse tipo de trabalho. Caso necessitem, entrem em contato comigo pelo Whatsapp clicando no próprio site. Caso não possam consultar comigo, tudo bem, mas não deixem de procurar o auxílio de um profissional capacitado, pois a mudança na vida da família é algo mágico quando há um trabalho psicoterapêutico bem feito com as crianças. Boa sorte!

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