Quando devo dar um animal de estimação para o meu filho?

Crianças brincando com seu cão

Na medida em que nossos filhos vão crescendo as necessidades vão se modificando e questões diversas surgem. Uma delas, que já me foi trazida diversas vezes no consultório, é a que dá título a este artigo. “Quando uma criança pode ter um animal de estimação?”

Resposta simples: quando você, mãe/pai, for capaz de gostar verdadeiramente deste animal.

Muitos pais presenteiam seus filhos com bichanos simplesmente porque são um objeto de desejo dos filhos ou deles mesmos. Às vezes vêem nesta prática um caminho para desenvolver certos sentimentos e atitudes nos filhos sem levar em conta que são duas vidas em jogo: a da criança e a do animal. De fato, este é um caminho para desenvolver sentimentos na criança, mas isto só pode ocorrer se for feito da forma correta.

Animais não podem ser tratados como brinquedos. Quando pais se esquecem desta realidade dificilmente haverá um ganho para a criança, pois o aprendizado sobre respeito que deveria surgir ao ter um animal se perde já no início, quando se trata do bicho como se fosse um objeto.

Animais não podem ser tratados como objetos

Cachorro ao lado de objetos

Muitos pais compram cãezinhos lindos para os filhos e quando eles crescem e começam a “dar trabalho” simplesmente os descartam, sem pensar no efeito que isto tem na criação de seus filhos. O efeito pode ser devastador.

Quando isto ocorre seu filho está aprendendo com você que o que não é “bonitinho” e comportado não merece ser amado e pode ser descartado.

Este aprendizado pode ser extremamente danoso para a formação da criança.

Sua atitude pode despertar nele o medo de crescer, de deixar de ser “bonitinho” porque poderá ser descartado assim como ocorreu com o seu “amigo”. Ele então desejará ser uma eterna criança, e isso poderá permear também sua fase adulta. 

Você talvez não entenda, no futuro, o porquê de seu filho ser tão infantil em suas atitudes e ter comportamentos incompatíveis com a idade que possui, tais como:

  • Uso de voz sempre fina em relação a idade; 
  • Trejeitos de criança de um modo geral;
  • Compra de objetos  infantis mesmo sendo adulto;
  • Necessidade intensa de atenção;
  • Cobranças indevidas em relação a você, como se ainda precisasse ser “aquela mãe” de idades mais tenras;
  • Etc, etc…

Outra possibilidade que pode ocorrer é que ele se identifique com você, tomando para si o seu exemplo ao descartar o bichano e entenda que o que lhe incomodar ou for dispendioso poderá ser descartado. Então,

não se surpreenda se, em sua velhice, quando naturalmente você se tornar menos necessária e produtiva, ele escolha um caminho de “descartar” a sua presença.

Determinados aprendizados que acontecem na infância por atitudes que nem damos tanto valor naquele momento, podem se perpetuar nas memórias e gerar comportamentos que são incompatíveis com as necessidades de uma boa convivência familiar.

A morte de um animal é um evento importante

Homem tentando reviver animal morto

Outra atitude comum dos pais em relação aos bichos de estimação acontece quando o animal se perde ou morre. Na ânsia de evitar o sofrimento dos filhos logo compram outro animal em substituição ao anterior. Medem os sentimentos dos filhos pela própria régua e acham que vai ficar tudo bem. Outro grande erro.

Neste caso, ele está aprendendo com você que pode substituir uma vida por outra. Está aprendendo que quando um ser amado se vai, basta colocar outro no lugar. 

Ou poderá se sentir completamente desrespeitado em sua dor como se fosse errado sofrer pela perda. A criança precisa viver o seu luto, precisa vivenciar o processo da perda, esvaziar-se da dor para então estar pronta para oferecer amor a um outro animal, desenvolvendo e ampliando sua capacidade de sentir. 

Ela precisa entender que pode amar novamente. Isto é completamente diferente de substituir ou transferir sentimentos. Sentimentos não podem ser simplesmente substituídos e muito menos transferidos para um outro ser. Eles são criados por vínculos que necessitam de tempo para serem construídos.

O tratamento de um animal não deve ser realizado com desprezo

Cachorro atrás das grades

Dar a ele um animal e tratá-lo com desprezo, como a maioria das famílias o fazem, terá consequências graves e talvez você não as entenda quando surgirem. O desprezo a um animal dado por uma família pode ser visto quando, por exemplo, elas: 

  • Simplesmente amarram seus cães no quintal e os alimentam como se isto bastasse;
  • Não dão carinho em hipótese alguma e a todo momento os rechaçam;
  • Quando não cuidam da sua saúde e bem estar;
  • Deixam-nos por tempos a fio sem companhia e cuidados essenciais tais como banho e limpeza do local onde vivem.

Criam-nos como se fossem brinquedos na estante a disposição, para os filhos se divertirem somente nos momentos que quiserem. Seus filhos estão aprendendo que podem possuir outra vida contando que dêem a ela o mínimo necessário.

Isso pode gerar no adulto a crença de que o mínimo necessário é suficiente. Não se surpreenda quando, no futuro, você tenha que conviver com um adulto e ouvir dele coisas como: “eu ponho comida em casa, eu te sustendo, do que você está reclamando?” Fique feliz e se abstenha então de qualquer argumento, pois você foi um excelente mestre ensinou seu filho a agir desta forma por meio de suas próprias atitudes.

Conclusão

Animal não é brinquedo é vida.

Somente se você for capaz de entender isto e for capaz de amar um animal deverá dar um animal ao seu filho para que ele aprenda com o seu exemplo. Seu filho aprende com a ligação que você tem com o animal, pois ter um bicho em casa na verdade é uma experiência vivida em família que se estende ao seu filho, está longe de ser uma relação apenas entre a criança e o bichano.

Um animal também não é apenas um método de ensino para crianças. Os próprios bichos possuem diversas necessidades tais como as crianças e precisam de cuidados e amor. Você precisa entender isto antes de se aventurar a dar, ou melhor, a criar um animal junto com seu filho. Nesta relação amorosa ele então aprenderá com você a cuidar de uma outra vida que depende dele, e perceber que este ser lhe devolve tudo que possui de mais precioso: amor incondicional, fidelidade e companhia genuína. Aprenderá que os animais nos oferecem muito mais do que nós oferecemos a eles e têm mais a nos ensinar do que possamos imaginar. Aprenderá que o animal não tem sorte em ser adotado por nós  Na verdade somos nós que somos privilegiados por tê-los conosco. 

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