Criança com medo atrás da parede

Existem dúvidas entre a necessidade de despertar tais emoções nas relações entre pais e filhos. Uma grande parte dos pais, quase sempre por não saberem melhores caminhos, acaba optando por uma regra simples: instigam medo em seus filhos, acreditando que se a criança não sente medo, não vai respeitá-los. 

Pensam que é a partir do medo da surra, que vão deixar de fazer bagunça; do medo do desapontamento, que vão fazer o que mandaram quando estão fora da presença dos pais; do medo de serem expulsos de casa, que vão utilizar métodos anticoncepcionais ao transarem; do medo dos xingamentos que vão ser respeitosos com as pessoas mais velhas. Enfim, pensam que educação e medo andam juntos e acabam construindo uma relação a partir daí, solidificada em um alicerce de medos diversos que não resultam em nada mais do que uma criança/adolescente/adulto inseguro e incompleto.

Qual é a diferença entre medo e respeito?

Os contos de fada podem nos ajudar a entender esta diferença. O medo é tão desnecessário nos relacionamentos que quando presente os desarmoniza completamente. O respeito, pelo contrário, é a maior fonte de harmonia de todos os relacionamentos.

A diferença entre o medo e o respeito é clara: o medo é imposto, o respeito é conquistado.

O ser humano só é capaz de amar alguém que ele admire, não há amor onde há medo ou temor. 

Se nos reportamos ao clássico da Disney: “A Bela e a Fera” veremos claramente esta representação. A Bela é aprisionada no castelo por medo, então o único desejo que nutre em seu coração é o desejo de partir de deixar aquele lugar. Só não o faz pelo medo do que a Fera possa realizar em relação a ela e aos que ela deseja proteger. 

Com o passar do tempo, a medida em que a Fera se deixa conhecer e permitir que as virtudes que tem dentro de si sejam percebidas, essa relação vai se modificando e a Bela então vai substituindo o sentimento de medo por respeito à criatura que existe dentro do monstro. A Bela percebe que o monstro é apenas o produto de todas as pressões externas que a criatura enfrentou, mas que dentro daquele invólucro existe uma essência que desperta na Bela um sentimento de admiração.

Este novo sentimento transforma o desejo de partir em uma vontade de permanecer ao lado daquele ser. 

O medo gera vontade de separação e enfraquece a criança

Criança distante da mãe

Os contos nos levam a estas reflexões de forma muito simples e na relação entre pais e filhos o que ocorre é muito similar. O medo desperta vontade de separação porque não passa pelo caminho da admiração, estando sim sob o comando da opressão. Filhos que têm medo de pais agressivos, rígidos demais ou violentos, logo quando puderem irão deixá-los e vão evitar seguir os seus conselhos pela vontade imensa que têm dentro deles de não serem iguais aos seus pais. Sendo assim, é natural que evitem absorver seus ensinamentos por receio de se assemelharem a eles.

Tomemos por exemplo filhos de pais alcoólatras e agressores: eles têm muito medo das ações destes pais e este medo é confundido com respeito. Isto é ilusão. Eles podem até se comportar de acordo com o que lhes é imposto, mas é questão de tempo até se libertarem e agirem de outra forma, já que nunca lhes foi dado a oportunidade de entender os valores que deveriam permear tais comportamentos. Os comportamentos são adquiridos através de agressões e ameaças – claras ou veladas – que consequentemente enfraquecem a criança.

O respeito surge pela admiração e fortalece a criança

Criança admirando o pai

O respeito só pode ser despertado pela admiração. Admira-se os pais pelo que são e representam no contexto do relacionamento. Pela proteção que oferecem, pelo respeito com que tratam a criança e o cônjuge. Vale lembrar que quando você trata mal o seu parceiro você está tratando mal uma pessoa que a criança ama 

profundamente, portanto respeitar o parceiro é fundamental para despertar  a admiração que levará seu filho a respeitar você. 

O respeito surge dos sentimentos mais profundos da criança por isso a fortalecem.

Então quando ela tiver a oportunidade de driblar as regras não o fará para não perder a admiração daqueles que ela também admira.

O respeito gera na criança este equilíbrio interno que é suficiente para que ela mesma reflita nos momentos mais importantes e saiba se portar corretamente nos mais diversos ambientes para manter o equilíbrio familiar.

Ok, eu atuo errado, o que fazer daqui por diante?

Primeiramente não ceda à tentação de utilizar o medo como forma educacional sempre que se sentir acuada ou sem recursos. O medo parece ser mais efetivo no curto prazo mas saiba que a longo prazo ele é uma péssimo recurso. Quando utilizamos o medo para educar nossos filhos eles acabam atuando imediatamente como esperamos, e isto nos dá esta falsa sensação de que estamos fazendo o certo. O respeito, resultado da admiração, gera valores educacionais perenes e dá à criança um verdadeiro exemplo a ser seguido. Comece a observar os momentos em que utiliza o medo como método educacional e substitua por outras formas de atuação. Deixe-me dar alguns exemplos:

  1. Ao observar a criança gritando ou falando muito alto: primeiro veja se você não grita com ele sempre quando quer que faça algo, se você grita sempre, está aí uma provável origem. A criança vê que quando você quer algo utiliza este recurso e, por imitação, vai tentar fazer o mesmo. Comece parando de gritar (seja com ela ou com outras pessoas) quando necessitar de algo, se for em relação a ela, exija que ela o faça com firmeza mas sem utilizar o recurso do grito ou de incutir o medo;
  2. Seu filho adolescente teima com você em tudo o que fala: saiba que ele está no processo de se tornar pai e mãe de si mesmo por isso a rebeldia surge nos momentos mais improváveis. Lembre-se que isto vai passar. Seja firme. Posicione-se como a figura de poder que você é. Mostre a ele quem dita as regras. Não ameace fazer o que não vai cumprir. Cada palavra sua deve ser cumprida. Promessas não cumpridas são atestado de fraqueza. Se prometer, cumpra.  E o mais importante: evidencie as qualidades e acertos dele antes das críticas. O que alimentamos sempre é o que vai sobreviver. Alimente qualidades com suas palavras e os defeitos irão morrendo de inanição. Torne-se alguém que ele admire e possa confiar e então será você seu melhor amigo (a).

É importante lembrar que limites devem ser impostos e respeitados. Você precisa entender que se quer que seu filho o respeite, precisa respeitá-lo antes porque o aprendizado das crianças começa pela imitação. O “faça o que eu digo mas não faça o que eu faço” é a desculpa que usamos para justificarmos nossos maus comportamentos.

Corrija o seu filho sempre que necessário mas o faça em particular. Você não precisa mostrar aos outros que é forte e sim a ele.

Todos os “erros” precisam ser corrigidos e as consequências evidenciadas. Corrigir em público, como muitos pais o fazem, gera baixa estima na criança e fortalece a agressividade pois correção em público se torna humilhação.

Despertar o respeito no seu filho é oferecer a ele um modelo a ser seguido e isso é libertador. É oferecer a ele as ferramentas necessárias para tornar-se respeitado e ser respeitado o livrará de situações constrangedoras e difíceis que o mundo nos oferece. 

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