
A partir desta semana iniciamos o ano no SobreMaesEFilhos. Espero que tenham sentido saudades, pois durante o meu recesso senti falta de escrever e falar com vocês.
Para o início do ano decidi fazer uma série de quatro artigos sobre o tema “Mães que fazem mal aos filhos” que por mais que possa soar estranho ao senso comum, existem e estão mais presentes do que você pode imaginar.
Ninguém nasce perfeito, mas todos sabemos que podemos nos aperfeiçoar. O objetivo dessa série é apresentar a vocês, mães, como alguns comportamentos podem ser maléficos aos filhos. Farei isso por meio da abordagem de quatro tipos de mães tóxicas. Você pode se identificar com alguns, isso é normal; ou mesmo identificar sua mãe, amigas, etc. Isto pode ajudar você a aprender a não ser assim, a ensinar outras pessoas a não sê-lo e, principalmente, a se defender e defender outras pessoas de mães assim, caso consiga. Ter consciência da existência dessa realidade ajuda muito na hora de enfrentar uma barra como essa.
Não existe mãe perfeita

Não estou aqui lançando uma culpa às mães mas, ainda hoje, por mais que os pais e avós estejam presentes na vida das crianças, a presença ou ausência das mães é determinante para a saúde mental de todo ser humano. Não estou também afirmando que não existam pais tóxicos pois eles existem tanto quanto as mães, então os perfis que vamos tratar cabe também a eles. Mas como o foco aqui é a relação mães e filhos, sempre me refiro ao papel de nós: mães.
Nenhuma de nós consegue ser perfeita e nem boa o suficiente mas, como é o esperado e já foi até definido, é preciso que sejamos ao menos uma mãe “suficientemente boa”. E ser suficientemente boa significa alcançar um patamar de equilíbrio que é necessário para que nossos filhos se desenvolvam bem e livremente.
Existem alguns perfis de mães que querem atenção a qualquer custo, precisam dos holofotes sobre elas por isso não conseguem suprir este equilíbrio. Ser filho filho(a) de mães desses perfis é muito difícil.
Vamos abordar alguns desses perfis de forma clara mas utilizando termos mais simples. Quando falamos de mães que fazem mal aos filhos logo nos vem à mente uma mãe definitivamente má, capaz de infringir sofrimentos físicos e/ou psicólogico e emocionais de forma ostensiva aos filhos.Engana-se quem pensa que este é o tipo mais comum, uma vez que muitas vezes esta forma de abuso não está presente para velar o seu comportamento ou pelos filhos serem mais fortes do que as mães.
O fato de não haver sofrimento físico, porém, não fará desaparecer as consequências. Vamos abordar algumas formas mais leves de abuso e também esta forma hostil à qual todos nós podemos entender. No entanto, o que precisa ficar claro é que dentro de todos os perfis o que está por trás do comportamento é um desejo frenético de auto satisfação pelo poder, status ou diversão. Elas podem estar ligadas a um desses requisitos, dois apenas,ou aos três ao mesmo tempo como é o caso do perfil que todas nós imaginamos ou conhecemos: a ostensivamente má. Começaremos pelo perfil da mãe que chamaremos aqui de: “A incrível”.
A mãe incrível

Mães deste perfil são muito impulsivas e guiadas pelo prazer. Estão sempre a caminho daquilo que é fácil gostoso e prazeroso, portanto revestido de alguma superficialidade. São impulsivas porque querem coisas boas, gostosas e divertidas. Isto as guia para que estejam sempre buscando situações onde esta necessidade seja satisfeita, onde o prazer seja imediato.
O que dê prazer a longo prazo não está em primeiro lugar nos seus planos. A maternidade, como todas as coisas mais sólidas, para elas é entediante porque as priva de atividades que lhe ofereçam este prazer. Então essas mães se tornam uma “mãe maravilha” que aparece em determinados momentos mas desaparece logo depois. Quando chegam trazem chocolates, presentes, fazem bagunça, brincam; ela é uma festa, mas com hora para acabar. Há uma certa instabilidade na sua função materna. Criar o filho na totalidade geralmente fica para outras pessoas mas também não há uma exclusividade nesta criação, alguém ficará com uma carga maior mas haverá uma participação coletiva neste processo, seja essa pessoa o pai, avós, tios, amigos, etc.
Elas tendem a ser uma figura altamente agradável. Por serem assim tão agradáveis, permissivas e empenhadas nos momentos em que estão presentes, há um certo endeusamento da criança em relação a elas pois, quando aparece, é a mãe mais legal do mundo. É divertida, alegre, participativa e tudo mais que um filho possa querer. Ela faz um show incrível mas com tempo limitado. Vem enquanto está gostoso mas logo depois já está interessada em outra coisa então se esquece de sua função ou a confunde e parte para outras atividades que a levem a obtenção de prazeres imediatos, deixando o filho para trás ou expondo a criança a lugares, situações ou ambientes incompatíveis.

Ela não se sente culpada pois tem a sensação de que tudo está bem pois cumpriu o seu papel uma vez que foi “incrível”. Por ser voltada para o prazer, tem uma carga de sexualidade muito elevada o que a leva a uma conexão muito forte com sua vida afetiva. Todas as outras funções ficam em segundo plano. O primeiro lugar é ocupado pela vida afetiva e sexual dela.
Ela traz os holofotes para si através de uma leveza que faz com que ela mesma não perceba o comportamento volátil que adota. As coisas mais consistentes são abandonadas e junto a elas também vai a maternidade, pois a maternidade por si só já traz um certo peso, é entediante. O que mais prejudica os filhos é o endeusamento que criança faz desta “mãe incrível”. A medida em que a criança cresce isto vai perdendo o peso, mas enquanto é pequena fica difícil para ela entender e responder à perguntas como:
- Porque esta deusa é também um fantasma?
- Por que ela não fica comigo?
- O que falta em mim para que eu possa fazê-la ficar?
A criança não pode entender que ela é incrível porque os filhos são uma peça no seu tabuleiro de prazeres. E esses filhos ficam perdidos neste mundo de “faz de contas” e sentem-se insuficientes pois não se sentem capazes de fazê-las permanecer ao lado deles. Esse sentimento pode acompanhá-los por toda a sua história deixando-os enfraquecidos em todos os campos da vida adulta pois esse sentimento de insuficiência fará com que tenham uma baixa estima constante. Nos relacionamentos amorosos se sentirão também incapazes se serem amados e insuficientes para manterem os seus parceiros ao seu lado tentando merecer o amor do outro tornando-se submissos, permissivos e emocionalmente dependentes. O que os guiará será este sentimento de incapacidade, de insuficiência, de não ser merecedor do amor e presença do outro.