
Isto pode soar estranho aos nossos ouvidos femininos mas é real.
Homens não traem porque uma mulher não pode ser traída.
Quando me deparo com alguém no consultório que se julga traída, aos prantos, buscando ajuda ou querendo apenas um ombro amigo para chorar, fico observando os caminhos que posso seguir para fazê-la enxergar que somente uma parte ínfima de si foi traída, uma parte pequeníssima de toda a sua integralidade feminina.
Como apenas essa parte pequena foi traída, a dor que está sentindo também pode ser proporcional àquela parte. É difícil de se compreender para quem vive aquele momento, mas a dor que se está sentindo só tomou tamanha proporção pelo seu desconhecimento de sua verdadeira natureza como mulher, do entendimento de sua totalidade feminina.
Acredite: quando se descobre a complexidade por trás de si mesma e o valor que há em si como mulher, a situação muda repentinamente. A dor começa a diminuir, a passionalidade a se apaziguar, a alegria e confiança em si mesma volta a aparecer como uma luz no fim do túnel que nos guia para fora da situação depressiva que é uma traição.
Esposas podem ser traídas, mulheres não!

Esposas podem ser traídas por seus maridos, namoradas traídas por seus namorados, amantes por seus amantes. Entretanto, mulheres não podem ser traídas porque mulheres só existem fora desses papéis, são sua super-estrutura, ou seja, são a matriz que sustenta a todos eles.
O problema surge quando uma mulher abre mão de sua condição de mulher, os papéis pelos quais transita ganham tanta força que a sufocam. É aí que começa o erro. No início há apenas a mulher, mesmo que ainda pequena, é uma pequena mulher. A medida em que crescemos, começamos a transitar em diversos papéis: filha, namorada, esposa, mãe e simultaneamente em tantos outros tais como aluna, amiga e profissional.
Mas a essência que sustenta a todos eles, a fonte que os supre é a mulher. Quando uma mulher perde esta consciência e se distancia de si mesma, agarra-se à função que a fizeram acreditar ser a mais importante, alimentando-a com toda a sua energia e deixando sua essência vazia. Então a mulher adoece e todas as funções por onde transita tornam-se um peso para ela.
É preciso que entendam que a única pessoa que existe é a mulher. Somente ela é permanente. Todas as demais são transitórias. Aparecem em momentos específicos e quando necessárias, mas vão se dissipar em diversos momentos.
O erro de se identificar muito com uma função na vida de mulher

Quando investimos muito em determinada função acabamos por nos confundirmos com ela e é por isso que nos sentimos traídas. Tentamos ser a função como se essa função fosse nós mesmas e então a fortalecemos com o que achamos ser importante.
- Tentamos ser uma esposa exemplar;
- Uma mãe perfeita;
- Uma filha dedicada ou qualquer outro dos papéis que se passam em nossa realidade.
Gastamos toda nossa energia para sustentar tais funções e isto é um sacrifício enorme por conseguinte acabamos esperando por reconhecimento. Quando o reconhecimento não acontece, nos sentimos traídas.
O que não percebemos é que todos os papéis são externalidades. A mulher surge quando olhamos para dentro e vivemos por nossos ideais de feminilidade, não por aquilo que outros desejaram que fôssemos.
Caso haja concretamente uma traição conjugal a dor beira a loucura.
Mas se uma mulher, mesmo no auge da sua dor, se atenta para o fato de ser ela muito além de uma esposa, inicia-se sua trajetória de auto percepção e é aí que começa sua caminhada de volta à sua essência.
E o meu papel de mãe, como fica depois de tudo isso?

Antes desta conscientização ela se sentirá compelida a sustentar outras funções, principalmente o papel de mãe, caso tenha filhos, o que poderá levá-la a permanecer no relacionamento como a esposa traída. Caso esta escolha se consume, os filhos, os quais ela deseja proteger de uma situação ruim com este auto sacrifício terão maiores problemas.
Ser filho ou filha também faz parte de nossas funções na vida, o que existe por trás desses papéis são pequenos homens e pequenas mulheres que precisam das mulheres que sustentam suas mães. E se você está vazia de si mesma, vazia da feminilidade que mora em si, não poderá sustentar seu papel de mãe do jeito que eles precisam de você.
Então, as proles terão de conviver com mães fracas e infelizes e essa convivência irá adoecê-los muito mais do que o conviver com pais separados poderia fazê-lo. Mas se você como mãe realmente investir na essência da mulher que a sustenta, que é muito mais do que o papel de esposa, terá forças para ser a mãe que seus filhos merecem.
Devo deixá-lo obrigatoriamente? Quando essa dor vai passar?

Gostaria de deixar claro que em momento algum estou aqui afirmando que em uma traição não pode haver o perdão se o casal assim o desejar.
Mas mesmo que este seja o caminho escolhido, a decisão precisa ser tomada pela mulher e não pela esposa.
Acho que depois de tudo o que falei sobre papéis esta frase fica clara, mas vou detalhar um pouco mais a razão.
A mulher que te sustenta em toda a sua essência e feminilidade, o fará por decisão íntima e racional, sem o viés das emoções, do desespero ou da incerteza. A esposa tomará tal decisão guiada por emoções centradas principalmente no medo.
Portanto se você está passando por um momento de separação onde tenha havido traição, saiba que a dor que você está sentindo, este aperto no peito, essa sensação de vazio torturante, é a percepção da sua mente de que esta perdendo um de seus papéis e tudo que nossa mente sente que está perdendo ela registra como dor e tenta evitar essa dor nos mantendo na “zona de conforto”, uma vez que para nós toda perda e dolorosa.
Em alguns momentos você se sentirá confusa sem entender se deseja ou não permanecer no mesmo lugar. Essa sensação vai permanecer por um tempo pois é o tempo necessário para que a mulher em você se fortaleça. E quando isto acontecer ela será substituída por uma sensação incrível de força e capacidade vinda desta mulher.
Você então vai entender que quando deixamos ir algo ou alguém que nos causa dor e sofrimento nunca é perda, é ganho.