“Mães tóxicas”: aprenda como não ser uma!

Mãe tóxica conversando com filho

Quando me tornei mãe algumas pessoas me diziam que devíamos criar os nossos filhos para o mundo, outras que devíamos criá-los para Deus, outras que deveríamos criá-los simplesmente livres. Qual dos caminhos seguir então?

Em minha própria experiência aprendi que devemos criá-los para si mesmos, criá-los para que sejam felizes e livres.

E o mais importante: quando digo livres significa que precisam ser livres também em relação a nós, suas mães. 

A dependência dos pais é uma prisão

Criança em uma cela de presídio

A pior prisão que podemos construir para os nossos filhos é a da dependência de nós. A natureza nos mostra em seus ambientes naturais, seja vegetal ou animal, a sabedoria da separação:

  • Para que as mudas se tornem plantas, precisam ser retiradas da matriz e libertas da fonte que as supre; 
  • Sementes para que germinem precisam ser lançadas ao solo sem a proteção do fruto;
  • Os animais, quando se reproduzem, têm um tempo limitado para prepararem suas crias para que se tornem adultas e logo que detectam esta capacidade as lançam para a vida adulta. Caso isto não ocorra suas crias tornam-se fracas e incapazes de sobreviver. 

Na natureza o ciclo da vida acontece de maneira equilibrada porque não existem criaturas de almas adoecidas. Não há transtornos mentais. Os animais “sabem” que devem ser necessários apenas o suficiente para que suas crias sobrevivam e assim elas se fortalecem e se capacitam a permanecer e perpetuarem a espécie. Porém os seres humanos tendem a se tornarem cada vez mais necessários a seus filhos disfarçando esta codependência em amor, o que está longe de sê-lo.

O que são mães tóxicas?

Filha incomodada com a mãe

Mães necessárias (ou tóxicas) são na verdade seres amedrontados pelo medo de se tornarem descartáveis e por isso prendem seus filhos, transformando-os em eternas crianças incapazes de sobreviverem sozinhas.

São mães que não criam os filhos visando sua liberdade e capacidade própria de viver.

Não entendem que o melhor que podemos fazer por nossos filhos é libertá-los de nós. Devemos buscar o nosso equilíbrio, a nossa felicidade para que possamos ajudá-los a buscar o próprio equilíbrio, a própria felicidade. Devemos entender que nossa atenção deve estar voltada primeiramente para nós mesmas afinal um cego não pode guiar outro cego.

Todo excesso gera excesso. Excesso de dedicação gera excesso de dependência, excesso de dependência gera excesso de fracasso.

O equilíbrio é o ponto central de todas as coisas, é o ponto central da saúde mental e familiar. Somente o equilíbrio na relação de pais e filhos pode gerar saúde mental, emocional e social. Pais inseguros tendem a criar dependência máxima em seus filhos para mantê-los junto a si. Não percebem que estão sendo movidos pelo próprio egoísmo pois disfarçam suas atitudes em excesso de cuidados e amor. Na verdade estão privando seus filhos de vida em abundância, o que lhes é de direito. 

O que isso causa na psicologia dos filhos?

Mãe chingando a filha

Muitas mães procuram os consultórios levando seus filhos tristes e ansiosos, outras vezes depressivos e agressivos sem entender o que está acontecendo para deixá-los assim. Se vêem como mães perfeitas pois protegem suas crias em tempo integral. Elas precisam compreender que na verdade seus filhos estão clamando por vida, pois vida só existe em liberdade e eles nunca se viram livres de seus cuidados excessivos, presença constante e controle exagerados. 

Elas fazem isso e ainda se sentem merecedoras de algo que eles se sentem incapazes de oferecer: amor. Só podemos devolver a alguém o que recebemos, e o que eles recebem desse tipo de mãe está longe de ser amor, é apego

Ao receber apego, os filhos devolverão apego, e este ciclo vicioso se instala disfarçado de amor. Amor com amor se paga.

Muitas mães sufocam os filhos de maneira tão intensa que lhes adoece a alma. 

  • Prendem os filhos em casa o tempo todo sem perceberem que o que está por trás de suas atitudes é no mais puro egoísmo, o que temem na verdade é a dor que elas podem sentir caso algo lhes aconteça. O centro de sua proteção são elas mesmas; 
  • Privam seus filhos da convivência com outras crianças e tantas outras experiências que são necessárias ao seu crescimento. Deixar os filhos longe dos perigos é exatamente o que os enfraquece. 

É preciso deixar que cometam os próprios erros

Criança machucada

Evitar que tropecem deixa-os incapazes de pular as pedras, pois é justamente a necessidade de se proteger que os capacita a fazê-lo. Mães que impedem seus filhos de brincarem por causa da sujeira dos ambientes nunca entendem o porquê de adoecerem tanto. E a medida em que eles crescem, mais elas fortalecem a redoma ao redor deles regando-a com tecnologia de ponta, deixando-os longe dos “perigos” necessários. Perigos que se resumem na possibilidade de que elas possam sofrer caso algo aconteça a eles.

Assim esses filhos são impedidos de viverem plenamente pois vivem sem o gozo necessário a cada fase que percorrem porque o que determina o prazer de viver casa momento é determinado pelos estímulos que são recebidos. Para cada estímulo existe uma experiência correspondente. Por sermos seres de gozo só nos tornamos saudáveis quando vivenciamos as situações com prazer. O trauma que todos procuram entender e encontrar nada mais é que uma experiência vivida sem gozo ou onde tenha havido um gozo regado de culpa.

O que fazer para não ser uma mãe tóxica?

Mulher perguntando

Quando prendemos os nossos filhos estamos impedindo que tenham os estímulos necessários a este estado de gozo. Pois a medida que ele cresce mudam os estímulos e a fonte de prazer. “Mudam-se os tempos mudam-se as vontades”, a sabedoria popular já nos ensina. Se quando ainda criança nosso filho tinha prazer por estar ao nosso lado, somente com a nossa presença,  quando adolescente precisa da convivência com os amigos para sentir prazer, precisar gozar das amizades e do que elas lhes oferecem, adulto necessita ainda da companhia da parceira (o). Em cada fase necessita de algo além de nós e é esta necessidade de alguém além de nós que nos amedronta. Esta possibilidade de abandono que leva mães a se tornarem tóxicas levando seus filhos a dependência, seja emocional ou financeira para se tornarem necessárias. Vale lembrar que o necessário não é indispensável. 

Para não  ser uma mãe tóxica basta permitir: permita que seu filho vá e viva, não o crie dentro de uma redoma, seja ela física ou emocional. Deixe-o viver e aprender também com a vida, isso é saudável e faz parte de um bom desenvolvimento.

São os medos mais profundos que adoecem essas mães e as tornam fontes de adoecimento dos filhos. Para saírem deste lugar basta se lembrarem que nossos filhos pertencem a eles mesmos. Somos apenas guardiãs de mentes em desenvolvimento e como guardiãs devemos ser mestres e não chefes ou guias. O poder que a princípio temos sobre eles deve lhes ser entregue logo que possam ser guias de se mesmos.

Existem mães que gostam de todos os filhos de igual maneira? Impossível!

Mãe com seus vários filhos, um ainda na barriga.

Irmãos são uma relação complexa e as vezes difícil, não é mesmo? Para nós que somos mães há momentos que nos sentimos em um beco sem saída. Claro que você já não presenciou uma cena assim na sua vida ou irá presenciar:

Sentados a mesa, durante um almoço de domingo, os filhos começam aquela velha discussão:

_ “Minha mãe gosta mais do nosso irmão mais velho!”, diz o caçula.

_ “Não, ela gosta mais é do irmão do meio.” retruca o mais velho.

_ “Que nada! Ela sempre gostou mais de você porque é o caçula. Comenta o do meio.

Sempre a mesma disputa por um amor que sugere um certo desamor e você, mãe, no meio de tudo tentando provar o contrário, tentando fazer com que acreditem que gosta de todos de igual maneira. 

O padrão ideal de mãe

Mãe e filhos representando um ideal

Aceitando  este papel, você acaba gastando sua energia para se enquadrar em um padrão de mãe, que lhe convenceram ser o da mãe ideal: santa e tão perfeita que é capaz de gostar de seres diferentes de igual maneira.

Vamos parar de mentir para nós mesmas e para outras mães que sofrem com a culpa pelo que realmente sentem. Somos seres limitados, comuns, imperfeitos e vulneráveis a situações e emoções, como todos os outros presentes neste planeta, portanto não precisamos nos enquadrar neste ideal.

Certa vez li um texto do qual transcrevo agora uma pequena parte. O texto é uma resposta que uma mãe, ao ser questionada sobre qual filho amaria mais, expressou:

_ “Amo mais ao que tenha fome até que seja alimentado. Amo mais aquele que sente frio até que seja aquecido. Amo mais ao que tem sede até que seja saciado. Amo mais aquele que se perdeu até que seja encontrado…. e assim ela nos brinda com grande sutileza enumerando todas as necessidades do filho mais amado até que chegue a necessidade do reencontro após a última separação.” 

Está é a resposta que ecoaria naturalmente de todas as mães, aquilo que está lá no fundo mas nem sempre sabemos falar. Somos programadas para proteger nossos filhos, portanto é natural que as mães estejam mais presentes na vida daquele filho que julguem mais precisar dela seja financeira, emocional ou psicologicamente. 

Gostar dos filhos de maneira diferente é natural

Mãe com filho "preferido" no colo

É o instinto natural de toda mãe. Os filhos, por não entenderem ser este um comportamento instintivo, o confundem com um amor desigual. É preciso porém que isto fique claro para as mães para que possam admitir para si mesmas seus sentimentos, pois o amor vai além dos instintos, das emoções e necessidades de auto proteção e preservação. 

Quando uma mãe se vê em uma situação onde a sobrevivência de um filho esteja em perigo, ela ultrapassa todos limites, inclusive colocando a própria vida em segundo plano em relação à vida do filho. Qualquer mãe oferecerá um órgão compatível a um dos filhos seja ele qual for, em caso de necessidade de um transplante, sem qualquer questionamento. Isto é amor. Pois é ação. É ato. O amor se traduz em atos que ultrapassam nossos padrões de auto amor e auto proteção. Acontece no campo da racionalidade da área mais sutil de nossa consciência. 

A diferença entre amar e gostar

Nunca se cobrem pelas emoções que experimentam pois as emoções transitam pelo campo do gostar. As mães amam igualmente cada filho mas gostam de forma diferente. O amor é genuíno, se apresenta de forma totalmente desvinculada dos instintos. O gostar é humano e está diretamente ligado as emoções. O amor é oferecido em igual proporção a cada filho uma vez que é infinito e imensurável. O gostar é proporcional as emoções que prevalecem nas relações, assim haverá um gostar mais acentuado em relação aquele filho que for mais presente, com o qual a mãe tiver maiores afinidades. Aquele que lhe der mais atenção e lhe fizer melhor companhia. 

Entenda a palavra companhia no sentido mais profundo, pois companhia é diferente de estar presente. É claramente possível, por exemplo, que um filho esteja presente na vida da mãe por questões financeiras e não lhe faça companhia genuína, o que permeará tal relação de emoções negativas.  Gostar de maneira individual de cada filho é presente em todas as mães. A tentativa de corresponder a uma figura ilusória de perfeição e de exigir está perfeição é que machuca, adoece e desequilibra as famílias.

Saibam filhos que são amados igualmente mas gostados de acordo com as emoções que despertam, com o que oferecem. O amor de mãe é incondicional o gostar não.

Se liberte da obrigação de ser perfeita

Mãe empoderada e se sentindo liberta

Mães, libertem-se da obrigação de serem perfeitas. Saibam que podem admitir todos os seus sentimentos em relação a seus filhos. Não precisam verbalizar e dizer claramente sobre suas preferências pois o falar pode machucar e deve ser evitado. Mas o saber que esses patamares são naturais evita o sofrimento por uma culpa sem sentido. Libertem-se desta culpa pois estes sentimentos são comuns em todas nós mesmo que a maioria tente nega-lo.

Quando encontrarem seus filhos disputando o seu amor, deixe que o façam pois isto tem haver  com eles. A maturidade também irá libertá-los da necessidade de serem os preferidos, mais queridos e escolhidos. Observe e fique tranquila, consciente de que o amor que sente por cada um deles é genuíno e o gostar merecido dentro da sua capacidade emocional. E mesmo que,aos olhos que a observam, você seja injusta por se manter mais junto a um ou outro, na sua infinita capacidade de se entregar por amor, você sabe que aquele filho necessita mais de voce devido as limitações que ele possui. Seja livre para ser a mãe que precisa ser.

Conclusão

O amor acontece no campo da razão e não das emoções. Não é sentimento. É traduzido em atos. Nos foi pedido que amássemos nossos inimigos e quando não entendemos o que é o amor isto se torna impossível. Podemos, mesmo sem gostar de alguém, praticar o amor adotanto atitudes corretas em relação a este alguém. Isto é o que chamamos “ato de amor”. Mas nos é impossível gostar de alguém que nos causa dor, algo natural dentro das nossas limitações humanas. Então, pratiquemos sempre o amor sem reservas em relação a todos principalmente aos nossos filhos, mas sejamos livres para gostar mais ou gostar menos daqueles que mereçam este sentimento.

“Dou de tudo para meus filhos”. O que devo exigir em troca?

Criança e mãe conversando

Sempre observei e a ciência veio nos mostrar que os micro sistemas são semelhantes ou idênticos ao macro sistema. Isto quer dizer que tudo que existe é semelhante ao sistema universal, pertence a ele e portanto está sob uma lei suprema. Observando a natureza pude perceber situações idênticas em sistemas, aos nossos olhos, completamente diferentes. Isso permite que façamos analogias das nossas vidas com as leis que atuam no universo e tomemos decisões baseadas nelas.

O exemplo dos átomos e como podem ser comparados com nosso seio familiar

Modelo de átomo

Por exemplo, observando o movimento das partículas atômicas, foi nos mostrado que dentro dos átomos estas partículas estão em órbitas definidas ao redor de seu núcleos e que, para saltar de uma órbita a outra precisam absorver certa quantidade de energia. 

Ao absorver a energia necessária esta partícula salta e alcança a órbita seguinte. Para cada salto ela necessita absorver uma quantidade de energia que é retirada do sistema, principalmente do núcleo, e a cada salto mais se distância deste núcleo. Porém, para que faça o movimento contrário, ou seja voltar a órbita anterior, precisa devolver ao sistema a mesma quantidade de energia que retirou para o salto. 

E o que digo é: assim também funciona com nossas famílias. Nós damos uma energia enorme para nossos filhos darem seus saltos. Os ensinamos a andar e eles avançam; os ensinamos a respeitar e eles avançam; participamos dos seus estudos e eles passam de ano; enfim, são inúmeros exemplos. Tudo isso faz com que eles vão encontrando seus próprios caminhos e se distanciando do seio familiar original onde eles surgiram. A grande pergunta que passa na mente dos pais é:

“Como mantê-los por perto se todas as minhas ações fazem com que eles se afastem, ou seja, com que guiem suas vidas para longe?”

Aí está a parte mais fascinamente. Nos átomos, ao devolver a energia consumida para o sistema, a partícula salta em direção ao núcleo novamente e a cada salto emite luz. ELA SE ILUMINA. Há iluminação no momento em que entrega  a energia que retirou e não o contrário.

Isso nos dá uma noção do que deve ser feito no seio familiar: permitir que nossos filhos não apenas recebam, mas devolvam a energia que receberam.

Por que os filhos devem dar algo em troca?

Garota dando presente para sua mãe

Vejo muitas famílias se perguntando onde erraram ao observarem seus filhos distantes dos seus olhos, quase perdidos. Talvez possam entender que estamos sob uma única lei. Filhos são elementos como aquelas partículas, precisam saltar para se tornarem completos e capazes. Os pais são o núcleo do sistema e por algum tempo a fonte de energia que os abastecem para saltarem experienciando novas “órbitas”. 

O que desequilibra o sistema é que muitos pais se perdem e continuam fontes onde os filhos se abastecem sem oferecer nada em troca.

Cada vez que retiram energia do sistema, esses filhos saltam e quanto mais saltam mais distantes do núcleo se encontram.

Se observassem e se permitissem aprender com a natureza, veriam com clareza o equívoco que cometem ao não exigir que o filho devolva a energia que foi absorvida. Somente ao devolver cada parte de energia que retiraram podem saltar de volta em direção ao núcleo e, somente neste movimento podem evoluir e compreender seu papel no seio familiar.

Como pais podem ajudar os filhos a realizar seu papel?

Criança ajudando mãe e avó a cozinhar

Evolução nos remete a iluminação. Quanto mais evoluídos mais iluminados nos tornamos. Toda energia absorvida precisa ser devolvida seja de que forma for. No início a criança recebe uma quantidade imensa de energia do sistema para sobreviver e deve devolve-la em forma de graça, obediência e carinho. A medida que cresce precisa ser ensinada a devolver o que recebe em forma de cuidados com as próprias coisas, em pequenas terefas como a arrumação do quarto, cuidado com os brinquedos, respeito com as outras pessoas, entre outros. Posteriormente devem devolver de acordo com o que recebem.

Quando falamos de devolução é preciso que os pais entendam que não estamos falando em cobranças por desempenho ou por excelência. Isto se torna pressão o que é muito diferente.

O que estamos falando é de fazer a criança entender e ser inserida como parte do sistema família com direitos mas também com deveres. O erro que os pais têm cometido é o de nada exigirem se seus filhos e, a medida em que crescem, continuarem da mesma forma: fontes inesgotáveis de energia. Assim seus filhos saltam a cada vez que tiram deles energia, para novas órbitas cada vêz mais distantes do núcleo familiar. Ao não devolverem nada para o sistema, não evoluem, não se iluminam.

E esses pais se perguntam: porque meu filho esta cada vez mais distante de mim? Logo eu que lhe dou tudo? Sinto dizer mas você financiou essa viagem deu-lhe passagem e passaporte.

Concluindo

Criança colaborativa lavando a louça

Exigir colaboração dos filhos sempre, é a chave que abre as portas que o trazem para perto de nós. Não tranque a porta e jogue esta chave fora. Não pense que colaboração é algo ruim para eles pois, ao contrário, é o que lhes trará mais alegria e felicidade e, principalmente, proximidade ao seio familiar que os faz recordar sempre que são únicos, mas fazem parte de algo maior a que devem sempre respeitar e valorizar e colaborar. Mostre a seu filho que ele é importante para o sistema tanto quanto o sistema é importante para ele  mas que ele serve ao sistema e não o sistema  a ele. Evite que seu filho aprenda que é a peça mais importante da família para que quando estiver no sistema maior, no sistema social não se decepcione com a sua real condição de  elemento que tem valor pelo que contribui e não pelo que usufrui.

Como criar um filho sendo mãe solteira?

Mãe solteira recebendo beijo do filho

A vida de mãe solteira não é fácil. Todas nós sabemos disso. Sejamos mães solteiras ou não, somos muito compassivas umas com as outras. E as dificuldades indiferem se você é “mãe solteira” por:

  • Ter sido simplesmente abandonada pelo marido na criação dos filhos;
  • Ter preferido criar os filhos sozinha, isto é, ter “escolhido” ser solteira;
  • Ou mesmo por ser viúva ou ter feito feito uma “produção independente”.

Em todos os casos as dificuldades são as mesmas. E o problema aumenta ainda mais quando vemos que o conteúdo que existe disponível sobre o assunto da criação de filhos quase sempre espera uma relação entre: pai, mãe e filhos, o que dista muito da realidade da maioria das famílias hoje em dia.

Uma relação diferente

Mãe e filha alegres

Você pode estar se perguntando agora:

Tudo que tenho lido contempla um pai na relação e eu não tenho um marido ao meu lado. O que vai acontecer com o meu filho?

Tranquilize-se. Reflita. Você esteve presente desde os primeiros momentos do seu filho(a) portanto tem muita importância no contexto de vida dele e isto perdurará por muito tempo.

No primeiro estágio de vida, do nascimento até um ano e meio, a relação é entre a criança e a mãe, e até aproximadamente os dois anos a meio há ainda uma ligação muito forte entre mãe e filho mesmo estando presente agora a interação entre a criança e as demais figuras familiares, inclusive a figura paterna. 

Estamos falando aqui em figuras mas é preciso ter clareza  que o importante é que essas figuras exerçam seus papéis, suas funções. Existem famílias onde os pais são apenas figuras que transitam no seio familiar sem contudo exercerem suas funções paternas. Muitas mães, atualmente, também deixam a desejar quanto à sua função materna.

Se você é mãe e sozinha, entenda que isto não é motivo para desespero.

Talvez seja menos problemático para a criança do que ter ao seu lado a figura de um homem que não exerça sua função, e que por isso seja um mal exemplo para o seu filho e objeto de rejeição.

Existe mesmo essa coisa de pãe? (mãe que é na verdade pai e mãe)

Mãe solteira com filho no colo

Muitas mulheres hoje em dia se vêem obrigadas a sustentar este lugar . Trabalham fora e dentro de casa. Acompanham seus filhos em todas as atividades e são responsáveis por suprir suas necessidades. São protetoras e supridoras. São a mulher e o homem da casa, nos termos mais antigos. Sabemos que a medida em que a criança cresce deve internalizar as funções paterna e materna para torna-se adulta. So é adulto quem é capaz de ser pai e mãe de si mesmo. Saiba que essas funções podem, ambas, estar presentes em você. 

Já vimos mulheres afirmarem: eu fui pai e mãe dos meus filhos e hoje eles são motivo de orgulho. São boas pessoas, bons pais e bons filhos. Como isto foi possível? Simples, essas mulheres exerceram ambas as funções. A função materna de acolher e proteger seus filhos, sendo a ordem dentro do grupo familiar e,  ao mesmo tempo, a função paterna de prover e limitar, sendo a lei dentro desta família. 

A criança, uma vez que tinha sobre si ambas as funções, mesmo que exercidas por uma mesma figura, teve a possibilidade de internalizar as duas funções tornando-se capaz de ser pai e mãe de si mesma. 

A criança aprende pelo exemplo e se identifica pela admiração

Criança cozinhando com a mãe

A criança aprende pelo exemplo e, além de internalizar as funções das figuras paternas, irá se identificar com a figura que lhe for objeto de admiração. Se você cria os seus filhos sozinha  relaxe, ele vai escolher uma figura que lhe seja admirável para se espelhar e com a qual irá se identificar. Provavelmente uma figura que seja do mesmo sexo dele (a). Portanto, facilite sua convivência com pessoas que o inspirem positivamente. Pode ser os tios, avós  irmãos, cunhados, amigos, não importa. Você vai perceber esta identificação e deve simplesmente permitir que se concretize. 

Figuras negativas podem ser um problema

Grande família com várias figuras que podem servir de exemplo

Saiba que a admiração pode acontecer com uma figura tanto positiva quanto negativa pois a mente da criança ainda não tem  capacidade de discernimento entre o certo e o errado. Ela apenas observa quem é o mais forte e poderoso no contexto para se espelhar e se identificar. Então estará propensa a ter o mesmo comportamento da figura admirada.

Cabe a você oferecer a criança ambientes saudáveis com pessoas equilibradas.

Se a criança estiver em um ambiente onde a figura de poder e força ocupe este lugar  por meios ilícitos, ela poderá se identificar com esta pessoa e seguir os seus passos. 

O que fazer então?

Por isso é preciso que você esteja alerta e consciente de suas funções. Como função materna deve acolher a criança em suas dores e dúvidas e  proporcionar a ela um ambiente ordenado para levá-la  ordernar-se internamente. Como função paterna deve traçar as diretrizes por onde ela deve transitar e as regras as quais precisa se submeter.

Isto requer firmeza e equilíbrio pois ela ainda precisa obedecer sem contudo ser privada de ter opiniões e um mínimo de liberdade para conseguir discernir sobre os próprios caminhos.

E preciso ordem e disciplina, amor e liberdade. Você deve ser seu porto seguro onde ela possa se expressar  sem contudo ultrapassar os limites que separam os papéis exercidos. Portanto vale a afirmação: “instrui o  teu filho nos caminhos que deve andar e ele jamais se afastará deles”.

Seus filhos estão muito distantes de você? Saiba o porquê e como aproximá-los novamente

Que o ser humano é um ente complexo todos nós sabemos. Mesmo os bebês e crianças, ainda tão pequenos e com pouco aprendizado sobre o mundo, são seres extremamente complexos e inteiros, com suas características, pensamentos e o mais importante: com sentimentos particulares e únicos.

Toda essa unicidade humana permite também algo único de nossa espécie: as pessoas podem se ligar umas às outras, se compreender, se sentir. Por mais que as ligações mentais possam ocorrer, a verdade é que

a única coisa que pode ligar verdadeiramente uma pessoa à outra são os sentimentos criados entre elas, ou seja, os vínculos que partilham e que desenvolvem em conjunto.

Existe um momento melhor para criar laços com meu filho ou filha?

Isso é assim para todos os seres humanos, sejam amigos, namorados, conhecidos ou colegas de trabalho. Saiba que entre mães e filhos não é diferente. Por mais que exista uma ligação biológica forte, esses laços precisam ser criados e desenvolvidos. O que nem todas as mães sabem é que há um momento ideal para o desenvolvimento inicial desses laços:

precisam ser criados quando a criança está desenvolvendo sua personalidade, ou seja, nos sete primeiros anos de sua vida. 

Crianças e pais brincando

Os laços que se criam nesta época são muito fortes. Eles têm um potencial enorme de criar vínculos profundos entre mãe e filhos. Perdemos nossos filhos quando deixamos escapar esta grande oportunidade. E aí ocorre um grande erro que a maioria das mães cometem: perdem a melhor época do relacionamento para se ligar emocionalmente aos seus filhos.

Se você conseguiu criar laços de afeto nesta época isto é ótimo, se não conseguiu saiba que ainda existe a oportunidade de fazê-lo, mas é preciso que você aprenda que vínculos são completamente diferentes de dependência.

Crie vínculos, não dependência

Mãe alimentando o filho enquanto o filho utiliza o celular

Muitos pais acham que criaram laços com seus filhos quando na verdade criaram dependência. Você provavelmente deve estar se perguntando agora: mas qual é a diferença entre eles? Como faço para criar vínculos e não dependência?

Eu respondo: vínculos são criados com afeto, dependência com cuidados. 

Muitas mães são extremamente cuidadosas e acham que são boas mães somente por:

  • Darem tudo o que os filhos querem;
  • Cuidar de suas roupas com perfeição e zêlo;
  • Dar banho e deixá-lo sempre limpinho;
  • Comprar os alimentos mais caros e lhes dar de comer “do bom e do melhor”.

E perdem a oportunidade de se ligar aos filhos mesmo tendo-os ao seu lado e se achando a melhor mãe do mundo. Companhia não é o mesmo que presença. Apenas o cuidado não cria vínculos, é preciso distribuir afeto. E o afeto gera a relação de intensidade que precisa existir entre mãe e filhos.

Filhos sem vínculos permanecem ao lado dos pais por dependência financeira ou psicólogica mas não por prazer, e por vontade.

Muitas mães perderam seus filhos nos pequenos momentos da rotina diária, quando pensaram que cumprir suas “obrigações” para com eles era o suficiente, que isso preencheria todas as necessidades dos filhos. Assim, essas mães oferecem tudo que o filho precisava  mas não o que ele verdadeiramente necessitava. Consegue perceber a diferença? É muito simples: o que a criança precisa pode ser comprado o que ela necessita não.

Mãe comprando coisas para a filha

Podemos comprar um brinquedo para uma criança mas não podemos comprar a sua capacidade de brincar e se divertir com ele. Podemos comprar roupas para ela no inverno mas não podemos comprar o calor para aquecê-la. Portanto, podemos fazer com que dependam de nós, mas não podemos fazer o mesmo com os vínculos.

Vínculos são criados com afeto, com entrega!

Mãe vinculada à filha

Na vida cotidiana e, é claro, em meu consultório, observo triste  mães cuidando dos filhos sem afeto, sem o aprofundamento na relação necessário e inerente à maternidade, e o grande problema é que os vínculos só são criados quando entregamos ao outro o que está além do necessário. 

É preciso que haja presença, o que é muito diferente de estar fisicamente presente. Presença nos momentos juntos só existe se houver afeto e o afeto só acontece se você estiver focada naquele momento. Se você estiver com seu filho com a mente em outro lugar, você não está presente. É preciso que você entenda isto pois um minuto de presença efetiva vale mais do que horas de estar apenas presente ao lado dele. Presença genuína se traduz em afeto nos momentos rotineiros. O afeto está presente durante o banho, em cada toque, na companhia verdadeira durante as refeições, em cada palavra dita com carinho. E dedicação que vai além do medo de errar e do medo de não corresponder às expectativas que você criou sobre si mesma e que pensa que os outros têm sobre você. 

Muitas mães colocam seus filhos para almoçar diante de uma mesa farta e os deixam ali, se alimentando sozinhos tendo a TV ou o celular por companhia, enquanto se dedicam a coisas que consideram mais importantes. Este é um dos maiores erros que podem cometer. Este  momento é indispensável para a criação de vínculos com seus filhos.

Dê valor ao momento de alimentação

Criança na mesa com pai ocupado

O momento da alimentação é importantíssimo. É um momento que aguça os sentidos  mais profundos da criança e ela precisa se sentir acolhida. Precisa de companhia genuína. Ela está completamente aberta ao prazer naquele instante pois seus sentidos estão a postos. O paladar, a visão, o olfato e o tato estão sendo estimulados ao mesmo tempo o que corrobora para criar memórias na mente dela. Por estar com os sentidos estimulados, seu senso crítico está rebaixado, a audição está livre, assim o que  é dito a ela tende a cristalizar-se em memórias mais facilmente. 

Este é o momento propício para lhe passar valores e não criticá-la ou expor suas falhas. É um momento em que memórias serão fixadas fortemente em sua mente. Se estas memórias são de convivência, de presença dos pais, vínculos fortes serão criados. Quando esses momentos são negligenciados perde-se uma das maiores oportunidades de criação de vínculos. Os vínculos criados nesses momentos são tão fortes que se tornam âncoras em suas mentes. Âncoras são memórias tão intensas que são acionadas pelos nossos sentidos sem que tenhamos controle sobre elas. 

Quem nunca se lembrou da casa da avó ao sentir aquele cheiro de bolo no ar ou da comida que ela fazia quando você ia visitá-la? Esta memória se transformou em uma âncora que leva você a este momento sempre que estimulada. As memórias que vinculam mães e filhos precisam ser positivas e fortes o suficiente para não deixar dentro delas abismos pela sua falta ou dores pela sua negatividade.

Ligue-se ao seu filho pelos momentos positivos, esteja presente

Pais e filho em um picnic

Somente criando vínculos na infância teremos nossos filhos ligados a nós por sentimentos positivos. As emoções vivenciadas nestes momentos serão a base dos sentimentos futuros que irão unir pais e filhos. Nada pode substituir tais memórias.

Boas memórias só se criam com bons momentos, bons momentos só existem se houver afeto, afeto só existe se houver presença.

Momentos perfeitos são ilusões que criamos com nossa mente limitada dentro da nossa capacidade humana, onde o perfeito se resume a momentos onde podemos dar tudo que o nosso filho quer. 

Quando permitimos que ele compre o que ele deseja no shopping, peça os sanduíches mais caros mesmo sem ter fome e depois nos sentamos a mesa lado a lado, cada qual com seu smartphone, destroem-se os laços. Estamos juntos mas não estamos presentes. Estamos em mundo diferentes, sem afeto.

Nos o vemos mas não nos enxergamos. Eles se afastam porque não há vínculos entre eles e os pais. Eles sentem-se cuidados mas não amados. Se alimenta mas continua faminto de afeto. 

Conclusão

Mãe ensinando ao filho

Ser mãe sem a clareza do que significa presença exige muito de nós. Ser mãe com esta compreensão nos liberta da culpa de nossas ausências naturais e obrigatórias. Nos liberta da necessidade de criarmos situações para estarmos a maior parte do tempo ao lado dos nossos filhos. Hoje a maioria das mães têm suas jornadas de trabalho e se culpam por estarem fora por grandes períodos. Fiquem tranquilas pois vocês podem transformar as poucas horas ao lado dos seus  filhos em presença genuína que vai estar na memória deles com tamanha grandeza que nada poderá abalar este vínculo entre vocês. Lembre-se: esteja presente todo o tempo em que estiver ao lado dos seus filhos.

Como errar menos com nossos filhos de 0 a 14 anos

Sou psicanalista, terapeuta e hipnoterapeuta, mas quando me perguntam minha profissão sempre respondo em conjunto: sou mãe! Isso porque esta é a tarefa mais difícil entre todas que eu já realizei e me orgulho profundamente da mãe que sou, apesar de saber que cometi muitos erros, que são naturais no processo. 

Este orgulho surge naturalmente, entretanto isso não faz com que eu deixe de lado o que sinto, senti e vivi na criação deles e é disso que quero falar aqui hoje.

A verdade é que os sentimentos em relação aos nossos filhos são tantos que muitas vezes não sabemos exatamente o tamanho desse amor que sentimos.

Também não aceitamos aqueles sentimentos escondidos que surgem e que precisamos aprender a aceitá-los para trabalhar com eles e tirar o melhor de nós e de nossos filhos. Vou descrever alguns desses sentimentos agora.

5 sentimentos que escondemos em relação a nossos filhos

Pare um pouco, veja se algum desses sentimentos nunca ocorreu com você… você olha para o seu filho e sente:

MEDO 

Mulher com medo de errar em relação ao filho

Do que está vivendo, do futuro, medo de errar. Saiba que esses são sentimentos comuns a toda mãe, você não está sozinha. Neste caso é um sentimento tão comum que às vezes nem temos vergonha de compartilhar com outras pessoas, nem sempre fica tão escondido.

ARREPENDIMENTO 

Mulher com arrependimento de ter tido o filho

Muitas vezes nos sentimos arrependidas até mesmo de termos parido nosso filho. É difícil admitir, mas ambas sabemos que é verdade. Lembramos do quanto éramos livres antes do seu nascimento:

  • Do quanto a vida era mais fácil e menos dispendiosa;
  • Do quanto tínhamos tempo para nós mesmas;
  • Dos sonhos que tínhamos e queríamos seguir.

Escondemos esse sentimento porque ele faz com que nos sintamos mal, nos sintamos não adequadas para o que a sociedade espera de nós. É natural que este sentimento escondido faça-nos sentir tão mal e não nos sintamos no direito de compartilhar que lá no fundo há um pouquinho de arrependimento.

RAIVA 

Mulher com raiva

Em certos momentos sentimos raiva. Raiva genuína de onde às vezes até brota alguma agressividade. Nos sentimos horríveis por achar que somos as únicas a termos tal sentimento, afinal, nossas amigas sempre nos dizem que só sentem amor, e esta pequena mentira que elas contam acaba nos condenando ao lugar de péssima mãe, numa análise que vem de dentro de nós mesmas. Então nos protegemos atrás de comportamentos amorosos e seguimos com nossa culpa. 

CIÚMES 

Mulher com ciúmes do filho

Porque todos olhos que te viam já não te enxergam mais. Estão voltados para a criança. Seu marido, amigos e familiares a enxergam sempre antes de você. Você quer ser vista com a importância que tinha antes, o que não é possível mais. Isto é a raiz do ciúme, e você pode até começar a direcionar um pouco de agressividade para aqueles que antes tinham muito mais olhos para você. Sem compreender a normalidade desses sentimentos, você segue sem saber o que fazer e sentindo-se ridícula e infantil por ter esse tipo de sentimento.

DECEPÇÃO

Mulher com decepção em relação ao filho

Afinal, a criança sempre é diferente daquilo que sonhamos e planejamos. Nunca é exatamente o resultado da nossa expectativa. Daí, surge uma pequena inveja do filho da minha amiga, lindo e tão perfeito mas que só o é porque o vemos em poucos momentos. Desta comparação surge um pensamento:

“Opa! Mas este que é o meu filho e eu tenho que amá-lo como é.”

E surge mais uma vez a culpa. Que agora pode desencadear uma pequena revolta. Da revolta com nossa expectativa e da culpa por sentí-la, surge a necessidade de dedicação genuína a esta missão que nos foi dada, a missão de mãe.

NÃO SABE O QUE SENTE? 

São “emoções‘’ entre amor e raiva, querer e não querer, proximidade e distância, carinho e rejeição, é tudo e nada ao mesmo tempo. Então você se perde nessa quantidade enorme de sentimentos não compreendidos e o único papel em que se encontra é o de mãe! Esquece-se de todos os outros papéis:

  • Filha;
  • Mulher;
  • Esposa;
  • Amiga.

E concentra-se em apenas um, fazendo de tudo sem medir esforços, e segue se obrigando a ser a melhor mãe que conseguir, cumprindo todas as expectativas que estão sobre você, enfrentando a tudo e a todos em defesa deste filho.

Mulher com filho desobediente

Então você pára e olha e percebe que precisa lidar com um filho:

  1. Que chora muito e não te dá espaço;
  2. Que não vai bem na escola;
  3. Que briga muito com os irmãos;
  4. Que não lhe obedece;
  5. Que é diferente do que você sonhou.

Aí você se pergunta: onde foi que eu errei?

Onde foi que errei?

Você não está sozinha. Todas nós erramos, erramos feio, erramos muito. Mas sabemos que tudo que fizemos foi tentando acertar pois fomos guiadas pelo desejo de vê-los felizes. O nosso problema é que não nos ensinaram que o “amor’’ liberta, e a verdade é que ele também aprisiona.

Se você estiver no início da jornada pode aprender a errar menos. Se já fez este caminho pode entender onde e porque errou e criar condições para minimizar as consequências destes erros, tomando atitudes acertadas no presente. Para isto é preciso que entendamos que o ser humano evolui em ciclos. Hoje vamos falar dos dois primeiros ciclos, de 0 a 14 anos, e eu vou dividi-los aqui em outros menores para explicar melhor e te dar dicas de como lidar com seu filho em cada fase.

Fase 1 – Do parto a um ano e meio

Criança de 0 a 1 ano e meio

A criança só deseja. Desejar é o sentimento que nos leva a nos livrarmos de tudo aquilo que nos incomoda e nos causa dor. O prazer nada mais é do que livrar-se desse incômodo. Nesta fase… Ler mais>>

Fase 2 – De um ano e meio aos 3 anos e meio

Menino de 3 anos

É o ciclo o mais importante, pois neste período a personalidade está se moldando de acordo com as memórias que estão sendo fixadas em sua mente. A interação pais e filhos será fundamental… Ler mais>>

Fase 3 – De 3 anos e meio aos 7 anos

Menina de 5 anos

Neste período a introjeção das funções paterna e materna tende a consolidar-se. A criança ainda estará tentando ocupar mais espaço e ampliar seus limites… Ler mais>>

Fase 4  – De 7 anos e meio aos 14 anos

Crianças de 11 a 12 anos

Neste ciclo a criança precisa ter internalizado as funções materna e paterna, pois se encontrará em situações onde não terá a presença dos pais para direcioná-la… Ler mais>>

Conclusão

Em qualquer período em que seu filho esteja e precise de ajuda, há sempre caminhos que você pode trilhar para chegar até ele. Porém, estes caminhos devem levar você ao encontro da criança negligenciada ou mimada dentro dele. É esta criança que precisa de cura. É esta criança que precisa de você e somente ela vai aceitar a sua ajuda. Você pode aprender a reconhecer esta criança observando as características físicas e comportamentais do seu filho ou filha. Ao encontrar a criança você poderá  supri-la apenas com o que faltou sem excessos, sem exageros. 

Pais carinhosos com os filhos

A falta desta clareza leva muitos pais a se perderem, sucumbindo às exigências dos filhos ao invés de suprir as necessidades que não foram supridas no momento oportuno.

Eles não conseguem perceber que o que faltou na verdade foram limites, foi um não firme e bem colocado; e assim continuam dizendo “sim” às suas  exigências. Não percebem que foram cuidadosos mas não foram amorosos, que criaram laços com seus filhos mas não criaram vínculos. Laços criam dependência, vínculos fazem nascer o amor.

Como errar menos com filhos de 7 anos e meio aos 14 anos

Crianças de 11 a 12 anos

Como é a criança

Neste ciclo a criança precisa ter internalizado as funções materna e paterna, pois se encontrará em situações onde não terá a presença dos pais para direcioná-la. Somente tendo essas funções dentro de si será capaz de se proteger e decidir sobre os vários caminhos que lhe serão apresentados. 

Ela deverá julgar as situações, adequá-las às leis e decidir sobre elas. Esta dinâmica estará ocorrendo o tempo todo dentro dela, cabe aos pais agora reforçar essas funções internalizadas por ela com limites, responsabilidades e reforços positivos.

Vale lembrar que elogios são mais importantes do que críticas pois elogios fortalecem.

Mãe elogiando filha

Este é ainda um período de muita rebeldia pois ela precisa desvincular-se das funções  paternas externas para conectar-se com as internas. Ela está em transição entre o externo e o interno, para ter lei, ordem e obediência em si mesma.

A necessidade de se opor a tudo tudo que você diz ou sugere será evidente. Isto é natural não é apenas para desafiar você. A mente dela a estará protegendo de ser dominada pois ser superior é o que todos buscamos. Dar ordens, pedir que compreenda e se coloque no seu lugar é imediatamente descartado pela mente dela. Você precisa ultrapassar esta resistência natural para chegar dentro dela.

O que fazer

O maior recurso neste momento é a contação de estórias. São estórias que vão dizer a ele o que você deseja, porém indiretamente. Conte estórias pequenas e muito simples, deixando sempre as conclusões por parte do adolescente. Não conclua para ela.

Você deve criar essas estórias utilizando personagens, conhecidos ou não por ele, que estejam em idade próxima e tenham comportamentos semelhantes aos que você deseja que ela modifique. Por conta dessa semelhança, automaticamente ela vai se comparar ao personagem da estória. Isto deve ser feito sem que ela perceba a sua intenção, esta é a principal razão para que você não conclua as estórias para ele.

Mãe contando estórias para filhos no carro
M

Sabe aquele momento que você está levando seu filho pra escola? Use-o para conversarem. Assim que a conversa estiver em um bom caminho, comece a introduzir as estórias. Você pode colocar informações preciosas dentro dos temas sem que ele resista. Você já viu pais desesperados tentando ensinar seus filhos a não usar drogas mostrando a eles o mal que elas fazem e serem surpreendidos com os filhos usando? Eles dizem: 

“Nossa! Eu falei tanto, preveni tanto, ensinei tanto, como pode isso estar acontecendo?”

A verdade é que foi dito algo da maneira errada. E justamente por falarem sem conhecerem a técnica correta, acabaram por chegar a este ponto.

Você precisa colocá-lo na história através de outro personagem que não seja ele. Se você quer falar, por exemplo, pra ele não usar drogas conte-lhe uma estória como quem não quer nada. Invente ou use personagens reais que estejam na situação que você quer evitar. 

Conte-lhe, por exemplo:

“Sabe, filho, aquela minha amiga. Ela tem um filho que é de uma idade próxima a sua (use aqui outras características do seu filho), ele estuda também mas ela me disse que ele se envolveu com drogas. Fiquei com pena dela.Você acredita que ela me disse que ele perdeu o ano. Ele quebrou o quarto dele todo um dia desses e ontem a polícia o prendeu junto com uns amigos estranhos que ela nem conhecia? Ela está arrasada e ele ele fichado. Fiquei triste por ela.”

Pare por aqui. Note que a história não leva a conclusões, porque elas devem ser feitas por ele. Confie nele, ele naturalmente fará o seguinte raciocínio:

“O filho dela tem 14 anos, eu também tenho 14 anos, somos iguais. Ele se meteu com drogas e se deu mal. Drogas não são boas.”

Esta conclusão tem que ser dele. Não conclua por ele dizendo algo como: 

“Viu é isto o que acontece se você seguir esse caminho. Aí é onde você vai chegar.”

Filha pensando sobre algo que os pais disseram

Se você fizer este tipo de comparação, estará reforçando a possibilidade dele entrar para este caminho porque ele possui uma necessidade enorme de se opor a você para crescer como ente autônomo. Nunca compare seu filho com alguém falando diretamente para ele. É um grande erro. Ele vai para o caminho oposto ao que você deseja que ele faça ao executar a comparação.

Além  do uso desta técnica, você pode reforçar os conceitos que já foram aprendidos e oferecer outros embasados na ética. Para isto é preciso que você se cuide para ser uma figura admirável aos olhos dela. Ela só se identificará com você se você for uma figura de referência. Crianças precisam de heróis, se não os encontrar em casa irão buscá-los fora.

Filho admirando a mãe

Então, não existe outro caminho:  

  • Se quer um filho saudável cure-se;
  • Se quer um filho forte fortaleça-se;
  • Se quer quer um filho educado, eduque-se, 
  • Se quer um filho respeitoso, respeite-se e respeite-o. 

Você deve se tornar o que espera dele. Então, se quer um filho perfeito… esqueça!