O que devo despertar em meu filho? Medo ou respeito?

Criança com medo atrás da parede

Existem dúvidas entre a necessidade de despertar tais emoções nas relações entre pais e filhos. Uma grande parte dos pais, quase sempre por não saberem melhores caminhos, acaba optando por uma regra simples: instigam medo em seus filhos, acreditando que se a criança não sente medo, não vai respeitá-los. 

Pensam que é a partir do medo da surra, que vão deixar de fazer bagunça; do medo do desapontamento, que vão fazer o que mandaram quando estão fora da presença dos pais; do medo de serem expulsos de casa, que vão utilizar métodos anticoncepcionais ao transarem; do medo dos xingamentos que vão ser respeitosos com as pessoas mais velhas. Enfim, pensam que educação e medo andam juntos e acabam construindo uma relação a partir daí, solidificada em um alicerce de medos diversos que não resultam em nada mais do que uma criança/adolescente/adulto inseguro e incompleto.

Qual é a diferença entre medo e respeito?

Os contos de fada podem nos ajudar a entender esta diferença. O medo é tão desnecessário nos relacionamentos que quando presente os desarmoniza completamente. O respeito, pelo contrário, é a maior fonte de harmonia de todos os relacionamentos.

A diferença entre o medo e o respeito é clara: o medo é imposto, o respeito é conquistado.

O ser humano só é capaz de amar alguém que ele admire, não há amor onde há medo ou temor. 

Se nos reportamos ao clássico da Disney: “A Bela e a Fera” veremos claramente esta representação. A Bela é aprisionada no castelo por medo, então o único desejo que nutre em seu coração é o desejo de partir de deixar aquele lugar. Só não o faz pelo medo do que a Fera possa realizar em relação a ela e aos que ela deseja proteger. 

Com o passar do tempo, a medida em que a Fera se deixa conhecer e permitir que as virtudes que tem dentro de si sejam percebidas, essa relação vai se modificando e a Bela então vai substituindo o sentimento de medo por respeito à criatura que existe dentro do monstro. A Bela percebe que o monstro é apenas o produto de todas as pressões externas que a criatura enfrentou, mas que dentro daquele invólucro existe uma essência que desperta na Bela um sentimento de admiração.

Este novo sentimento transforma o desejo de partir em uma vontade de permanecer ao lado daquele ser. 

O medo gera vontade de separação e enfraquece a criança

Criança distante da mãe

Os contos nos levam a estas reflexões de forma muito simples e na relação entre pais e filhos o que ocorre é muito similar. O medo desperta vontade de separação porque não passa pelo caminho da admiração, estando sim sob o comando da opressão. Filhos que têm medo de pais agressivos, rígidos demais ou violentos, logo quando puderem irão deixá-los e vão evitar seguir os seus conselhos pela vontade imensa que têm dentro deles de não serem iguais aos seus pais. Sendo assim, é natural que evitem absorver seus ensinamentos por receio de se assemelharem a eles.

Tomemos por exemplo filhos de pais alcoólatras e agressores: eles têm muito medo das ações destes pais e este medo é confundido com respeito. Isto é ilusão. Eles podem até se comportar de acordo com o que lhes é imposto, mas é questão de tempo até se libertarem e agirem de outra forma, já que nunca lhes foi dado a oportunidade de entender os valores que deveriam permear tais comportamentos. Os comportamentos são adquiridos através de agressões e ameaças – claras ou veladas – que consequentemente enfraquecem a criança.

O respeito surge pela admiração e fortalece a criança

Criança admirando o pai

O respeito só pode ser despertado pela admiração. Admira-se os pais pelo que são e representam no contexto do relacionamento. Pela proteção que oferecem, pelo respeito com que tratam a criança e o cônjuge. Vale lembrar que quando você trata mal o seu parceiro você está tratando mal uma pessoa que a criança ama 

profundamente, portanto respeitar o parceiro é fundamental para despertar  a admiração que levará seu filho a respeitar você. 

O respeito surge dos sentimentos mais profundos da criança por isso a fortalecem.

Então quando ela tiver a oportunidade de driblar as regras não o fará para não perder a admiração daqueles que ela também admira.

O respeito gera na criança este equilíbrio interno que é suficiente para que ela mesma reflita nos momentos mais importantes e saiba se portar corretamente nos mais diversos ambientes para manter o equilíbrio familiar.

Ok, eu atuo errado, o que fazer daqui por diante?

Primeiramente não ceda à tentação de utilizar o medo como forma educacional sempre que se sentir acuada ou sem recursos. O medo parece ser mais efetivo no curto prazo mas saiba que a longo prazo ele é uma péssimo recurso. Quando utilizamos o medo para educar nossos filhos eles acabam atuando imediatamente como esperamos, e isto nos dá esta falsa sensação de que estamos fazendo o certo. O respeito, resultado da admiração, gera valores educacionais perenes e dá à criança um verdadeiro exemplo a ser seguido. Comece a observar os momentos em que utiliza o medo como método educacional e substitua por outras formas de atuação. Deixe-me dar alguns exemplos:

  1. Ao observar a criança gritando ou falando muito alto: primeiro veja se você não grita com ele sempre quando quer que faça algo, se você grita sempre, está aí uma provável origem. A criança vê que quando você quer algo utiliza este recurso e, por imitação, vai tentar fazer o mesmo. Comece parando de gritar (seja com ela ou com outras pessoas) quando necessitar de algo, se for em relação a ela, exija que ela o faça com firmeza mas sem utilizar o recurso do grito ou de incutir o medo;
  2. Seu filho adolescente teima com você em tudo o que fala: saiba que ele está no processo de se tornar pai e mãe de si mesmo por isso a rebeldia surge nos momentos mais improváveis. Lembre-se que isto vai passar. Seja firme. Posicione-se como a figura de poder que você é. Mostre a ele quem dita as regras. Não ameace fazer o que não vai cumprir. Cada palavra sua deve ser cumprida. Promessas não cumpridas são atestado de fraqueza. Se prometer, cumpra.  E o mais importante: evidencie as qualidades e acertos dele antes das críticas. O que alimentamos sempre é o que vai sobreviver. Alimente qualidades com suas palavras e os defeitos irão morrendo de inanição. Torne-se alguém que ele admire e possa confiar e então será você seu melhor amigo (a).

É importante lembrar que limites devem ser impostos e respeitados. Você precisa entender que se quer que seu filho o respeite, precisa respeitá-lo antes porque o aprendizado das crianças começa pela imitação. O “faça o que eu digo mas não faça o que eu faço” é a desculpa que usamos para justificarmos nossos maus comportamentos.

Corrija o seu filho sempre que necessário mas o faça em particular. Você não precisa mostrar aos outros que é forte e sim a ele.

Todos os “erros” precisam ser corrigidos e as consequências evidenciadas. Corrigir em público, como muitos pais o fazem, gera baixa estima na criança e fortalece a agressividade pois correção em público se torna humilhação.

Despertar o respeito no seu filho é oferecer a ele um modelo a ser seguido e isso é libertador. É oferecer a ele as ferramentas necessárias para tornar-se respeitado e ser respeitado o livrará de situações constrangedoras e difíceis que o mundo nos oferece. 

Como lidar com a tristeza dos filhos após a separação dos pais

Criança triste com a separação dos pais

Quando um relacionamento termina é doloroso para todos. Não importa quem decida inicialmente pela separação: a dor, tristeza e sensação de vazio preenchem os espaços de todos os corações envolvidos. 

Para os casais que possuem filhos essa dor pode ser ainda maior. Isso porque não somente o casal compunha aquele sistema, mas a família como um todo. E toda vez que um sistema se desfaz, há forças que atuam para que ele permaneça. Por isso, mesmo quando um casamento se torna tóxico e o casal se sente mal juntos, ainda há tanta dificuldade em dissolvê-lo e seguir em frente por caminhos separados.

E é normalmente nessa situação difícil da separação que os pais ainda precisam lidar com uma outra realidade: percebem seus filhos tristes, desolados e sem chão. A pergunta que surge é: como lidar com a tristeza dos filhos e ajudá-los a superar este momento difícil?

O maior erro que os pais cometem ao se separarem

Criança ouvindo os pais brigando

Um ponto que às vezes passa despercebido para os pais é que o rompimento familiar não deve ser completo.

Este rompimento de laços se dá somente entre os pais e não entre pais e filhos. O maior erro que se pode cometer neste momento é envolver os filhos nesta batalha.

Os sentimentos e emoções negativas que existem entre os pais não são os mesmos que os filhos nutrem em relação a eles. Tentar usar os filhos para atingir o outro destrói os filhos internamente, pois eles são obrigados a ter ações que não condizem com seus sentimentos e isto os fazem sentirem-se culpados, e saibam vocês que, depois de anos de consultório atendendo a filhos nessa situação eu descobri que a culpa os esmaga a alma. 

Há uma ligação muito mais profunda entre os filhos e os pais do que entre os cônjuges. Tentar transformar a relação entre eles na mesma relação conturbada que se vive no momento da separação é impossível e constitui um grave erro. Usar os filhos como arma ou bengala é o ápice do egoísmo. Lembre-se: talvez o casal não se goste mais (ou até se odeie) e tenham motivos reais para tal, entretanto é preciso respeitar os sentimentos dos filhos. 

Filhos raramente deixam de amar os seus pais, mas o casal pode deixar de se amar com certa facilidade

Menino brincando com seu pai

Deixar de amar pai e mãe é um caminho tortuoso. Você já parou para pensar sobre isso? Se temos dificuldade de deixar de amar alguém que entra em nossa vida quando já somos adultos (como cônjuje ou amigos), como deixar de amar alguém que esteve conosco desde nosso nascimento? Pense nisso. Há laços que se você tentar rompê-los trarão consequências muito difíceis de serem equacionadas posteriormente. Por isso, você mãe, não cometa erros como:

  1. Falar mal do pai dos seus filhos;
  2. Tentar convencer os filhos do quanto o pai é desnecessário ou desumano;
  3. Gerar discórdia entre pai e filhos falando coisas como: “Ele não liga para vocês!”, “Ele não quer estar com você nos momentos em que deveria.”, “Ele não quer saber se você come ou deixa de comer!”;

Enfim, não crie um campo de batalhas que envolva os seus filhos. Deixe-os fora do ringue em que vocês decidiram se engalfinhar, pois eles não possuem maturidade e nem base sentimental para isto. Seus filhos terão que enfrentar a sensação de perda da separação física e isto já será difícil demais. Não complique mais esta situação adicionando dificuldades que as crianças e adolescentes ainda não são capazes de processar.

A origem da tristeza nas crianças e adolescentes

Criança triste com a separação dos pais

Ver um pai ou mãe partir gera uma grande sensação de abandono na criança. Ela sente que está sendo deixada pelo cônjuge que se vai. Ela não consegue processar a situação e entender que o cônjuge que vai está deixando o outro cônjuge e não a ela. Esta é a origem de sua tristeza. A sensação de abandono que ela sente é tão grande e incontrolável que a faz mergulhar em uma tristeza sem tamanho que pode se refletir:

  1. Nos estudos: a criança pode ficar mais desatenta, sem vontade para os estudos ou para ir para a escola;
  2. Na alimentação: perde o interesse até mesmo em comer as coisas que mais gosta;
  3. Em seu ânimo: fica desanimada para realizar várias tarefas, por exemplo, mesmo se gosta de futebol ou balé acaba por ficar sem vontade de realizar a atividade.

E é por conta dessa tristeza que muitas crianças manifestam uma vontade inata de querer unir os pais novamente.

Você já deve ter podido presenciar cenas de crianças ou adolescentes, mesmo novinhos, falando coisas como:

  1. “Queria que meus pais voltassem a ficar juntos.”;
  2. “Ah, eu gostava mais de quando a gente viviamos todos juntos.”;
  3. “Peço a Deus todas as noites para meu pai (ou minha mãe) voltar para casa.”;

Saiba que isso é natural e acontece com várias crianças. Na verdade sua mente está buscando caminhos para que aquela dor termine, e a volta da família como era antes é o caminho mais claro que ela enxerga. Ainda que os filhos sejam adolescentes, você vai perceber os movimentos que eles fazem para tentar unir os pais novemente.

Talvez você se irrite pensando que ele já é adulto o suficiente para entender a situação, mas saiba que o raciocínio neste momento está ausente diante das emoções que preenchem todo o seu ser. Eles estão tentando se livrar da dor por traz da sensação de abandono que, devido à partida de alguém que eles amam, os está machucando por dentro.

O que fazer para ajudar os filhos?

Mãe consolando seu filho

Para ajudá-los você precisa entender que eles são pessoas que estão ali a mercê de suas ações. Você está ferida porque suas expectativas foram frustradas e por isso sente raiva do cônjuje, mas seus filhos sentem amor e não devem deixar de senti-lo. 

Não tente fazer com que eles sintam o que você sente, com que vejam o outro com o seu olhar pois este olhar se opõe aos sentimentos das crianças ou adolescentes. Fazer com que eles vivam com essa culpa por não sentir o que você quer que eles sintam pode gerar doenças psíquicas sérias em seus amados filhos.

Deixe que ele ame quem você não ama mais. Deixe que ele conviva e desfrute da companhia de quem você não deseja mais e sem se sentirem culpados por isto. Nunca tente manchar a imagem do pai ou mãe deles, pois estará destruindo suas referências e um ser humano sem referências é um ser humano órfão de base familiar.

E se foi você quem saiu de casa, faça com que eles sintam que você só mudou de endereço, e que de forma nenhuma os abandonou. Esteja sempre presente na vida dele. Passe tempo com ele. Crie uma rotina que o inclua e quando estiver com ele esteja de verdade. Não tente enganá-lo com uma presença ausente (por exemplo estar presente com ele mas sempre com o celular na mão fazendo outra coisa), isto é doloroso demais para a criança ou adolescente.

Muitos pais quando estão com seus filhos o fazem sem estar ali. Os deixam na casa com seus brinquedos como se isto bastasse e se iludem travestindo-se de pais presentes.

Essa ausência é pior porque a criança sente você ausente. Isso porque a criança não sabe como trazê-la para sua companhia novamente.  Quando você está longe ela sabe que pode ligar e pedir sua presença, mas você estando ali, ela se sente impotente porque não sabe o que fazer. 

Quando se dispuser a estar com seu filho esteja com ele literalmente e nunca, nunca prometa que irá vê-lo ou buscá-lo para uma atividade e não compareça, pois, cada vez que isto acontece ele experimenta novamente a dor do abandono tão intensa como no dia que você partiu. Tenha compromisso com ele e seja fiel às expectativas dele. Assim a tristeza irá diminuindo pois o abandono da partida vai sendo substituído pelo prazer enorme dos reencontros.

“Mães tóxicas”: aprenda como não ser uma!

Mãe tóxica conversando com filho

Quando me tornei mãe algumas pessoas me diziam que devíamos criar os nossos filhos para o mundo, outras que devíamos criá-los para Deus, outras que deveríamos criá-los simplesmente livres. Qual dos caminhos seguir então?

Em minha própria experiência aprendi que devemos criá-los para si mesmos, criá-los para que sejam felizes e livres.

E o mais importante: quando digo livres significa que precisam ser livres também em relação a nós, suas mães. 

A dependência dos pais é uma prisão

Criança em uma cela de presídio

A pior prisão que podemos construir para os nossos filhos é a da dependência de nós. A natureza nos mostra em seus ambientes naturais, seja vegetal ou animal, a sabedoria da separação:

  • Para que as mudas se tornem plantas, precisam ser retiradas da matriz e libertas da fonte que as supre; 
  • Sementes para que germinem precisam ser lançadas ao solo sem a proteção do fruto;
  • Os animais, quando se reproduzem, têm um tempo limitado para prepararem suas crias para que se tornem adultas e logo que detectam esta capacidade as lançam para a vida adulta. Caso isto não ocorra suas crias tornam-se fracas e incapazes de sobreviver. 

Na natureza o ciclo da vida acontece de maneira equilibrada porque não existem criaturas de almas adoecidas. Não há transtornos mentais. Os animais “sabem” que devem ser necessários apenas o suficiente para que suas crias sobrevivam e assim elas se fortalecem e se capacitam a permanecer e perpetuarem a espécie. Porém os seres humanos tendem a se tornarem cada vez mais necessários a seus filhos disfarçando esta codependência em amor, o que está longe de sê-lo.

O que são mães tóxicas?

Filha incomodada com a mãe

Mães necessárias (ou tóxicas) são na verdade seres amedrontados pelo medo de se tornarem descartáveis e por isso prendem seus filhos, transformando-os em eternas crianças incapazes de sobreviverem sozinhas.

São mães que não criam os filhos visando sua liberdade e capacidade própria de viver.

Não entendem que o melhor que podemos fazer por nossos filhos é libertá-los de nós. Devemos buscar o nosso equilíbrio, a nossa felicidade para que possamos ajudá-los a buscar o próprio equilíbrio, a própria felicidade. Devemos entender que nossa atenção deve estar voltada primeiramente para nós mesmas afinal um cego não pode guiar outro cego.

Todo excesso gera excesso. Excesso de dedicação gera excesso de dependência, excesso de dependência gera excesso de fracasso.

O equilíbrio é o ponto central de todas as coisas, é o ponto central da saúde mental e familiar. Somente o equilíbrio na relação de pais e filhos pode gerar saúde mental, emocional e social. Pais inseguros tendem a criar dependência máxima em seus filhos para mantê-los junto a si. Não percebem que estão sendo movidos pelo próprio egoísmo pois disfarçam suas atitudes em excesso de cuidados e amor. Na verdade estão privando seus filhos de vida em abundância, o que lhes é de direito. 

O que isso causa na psicologia dos filhos?

Mãe chingando a filha

Muitas mães procuram os consultórios levando seus filhos tristes e ansiosos, outras vezes depressivos e agressivos sem entender o que está acontecendo para deixá-los assim. Se vêem como mães perfeitas pois protegem suas crias em tempo integral. Elas precisam compreender que na verdade seus filhos estão clamando por vida, pois vida só existe em liberdade e eles nunca se viram livres de seus cuidados excessivos, presença constante e controle exagerados. 

Elas fazem isso e ainda se sentem merecedoras de algo que eles se sentem incapazes de oferecer: amor. Só podemos devolver a alguém o que recebemos, e o que eles recebem desse tipo de mãe está longe de ser amor, é apego

Ao receber apego, os filhos devolverão apego, e este ciclo vicioso se instala disfarçado de amor. Amor com amor se paga.

Muitas mães sufocam os filhos de maneira tão intensa que lhes adoece a alma. 

  • Prendem os filhos em casa o tempo todo sem perceberem que o que está por trás de suas atitudes é no mais puro egoísmo, o que temem na verdade é a dor que elas podem sentir caso algo lhes aconteça. O centro de sua proteção são elas mesmas; 
  • Privam seus filhos da convivência com outras crianças e tantas outras experiências que são necessárias ao seu crescimento. Deixar os filhos longe dos perigos é exatamente o que os enfraquece. 

É preciso deixar que cometam os próprios erros

Criança machucada

Evitar que tropecem deixa-os incapazes de pular as pedras, pois é justamente a necessidade de se proteger que os capacita a fazê-lo. Mães que impedem seus filhos de brincarem por causa da sujeira dos ambientes nunca entendem o porquê de adoecerem tanto. E a medida em que eles crescem, mais elas fortalecem a redoma ao redor deles regando-a com tecnologia de ponta, deixando-os longe dos “perigos” necessários. Perigos que se resumem na possibilidade de que elas possam sofrer caso algo aconteça a eles.

Assim esses filhos são impedidos de viverem plenamente pois vivem sem o gozo necessário a cada fase que percorrem porque o que determina o prazer de viver casa momento é determinado pelos estímulos que são recebidos. Para cada estímulo existe uma experiência correspondente. Por sermos seres de gozo só nos tornamos saudáveis quando vivenciamos as situações com prazer. O trauma que todos procuram entender e encontrar nada mais é que uma experiência vivida sem gozo ou onde tenha havido um gozo regado de culpa.

O que fazer para não ser uma mãe tóxica?

Mulher perguntando

Quando prendemos os nossos filhos estamos impedindo que tenham os estímulos necessários a este estado de gozo. Pois a medida que ele cresce mudam os estímulos e a fonte de prazer. “Mudam-se os tempos mudam-se as vontades”, a sabedoria popular já nos ensina. Se quando ainda criança nosso filho tinha prazer por estar ao nosso lado, somente com a nossa presença,  quando adolescente precisa da convivência com os amigos para sentir prazer, precisar gozar das amizades e do que elas lhes oferecem, adulto necessita ainda da companhia da parceira (o). Em cada fase necessita de algo além de nós e é esta necessidade de alguém além de nós que nos amedronta. Esta possibilidade de abandono que leva mães a se tornarem tóxicas levando seus filhos a dependência, seja emocional ou financeira para se tornarem necessárias. Vale lembrar que o necessário não é indispensável. 

Para não  ser uma mãe tóxica basta permitir: permita que seu filho vá e viva, não o crie dentro de uma redoma, seja ela física ou emocional. Deixe-o viver e aprender também com a vida, isso é saudável e faz parte de um bom desenvolvimento.

São os medos mais profundos que adoecem essas mães e as tornam fontes de adoecimento dos filhos. Para saírem deste lugar basta se lembrarem que nossos filhos pertencem a eles mesmos. Somos apenas guardiãs de mentes em desenvolvimento e como guardiãs devemos ser mestres e não chefes ou guias. O poder que a princípio temos sobre eles deve lhes ser entregue logo que possam ser guias de se mesmos.

“Dou de tudo para meus filhos”. O que devo exigir em troca?

Criança e mãe conversando

Sempre observei e a ciência veio nos mostrar que os micro sistemas são semelhantes ou idênticos ao macro sistema. Isto quer dizer que tudo que existe é semelhante ao sistema universal, pertence a ele e portanto está sob uma lei suprema. Observando a natureza pude perceber situações idênticas em sistemas, aos nossos olhos, completamente diferentes. Isso permite que façamos analogias das nossas vidas com as leis que atuam no universo e tomemos decisões baseadas nelas.

O exemplo dos átomos e como podem ser comparados com nosso seio familiar

Modelo de átomo

Por exemplo, observando o movimento das partículas atômicas, foi nos mostrado que dentro dos átomos estas partículas estão em órbitas definidas ao redor de seu núcleos e que, para saltar de uma órbita a outra precisam absorver certa quantidade de energia. 

Ao absorver a energia necessária esta partícula salta e alcança a órbita seguinte. Para cada salto ela necessita absorver uma quantidade de energia que é retirada do sistema, principalmente do núcleo, e a cada salto mais se distância deste núcleo. Porém, para que faça o movimento contrário, ou seja voltar a órbita anterior, precisa devolver ao sistema a mesma quantidade de energia que retirou para o salto. 

E o que digo é: assim também funciona com nossas famílias. Nós damos uma energia enorme para nossos filhos darem seus saltos. Os ensinamos a andar e eles avançam; os ensinamos a respeitar e eles avançam; participamos dos seus estudos e eles passam de ano; enfim, são inúmeros exemplos. Tudo isso faz com que eles vão encontrando seus próprios caminhos e se distanciando do seio familiar original onde eles surgiram. A grande pergunta que passa na mente dos pais é:

“Como mantê-los por perto se todas as minhas ações fazem com que eles se afastem, ou seja, com que guiem suas vidas para longe?”

Aí está a parte mais fascinamente. Nos átomos, ao devolver a energia consumida para o sistema, a partícula salta em direção ao núcleo novamente e a cada salto emite luz. ELA SE ILUMINA. Há iluminação no momento em que entrega  a energia que retirou e não o contrário.

Isso nos dá uma noção do que deve ser feito no seio familiar: permitir que nossos filhos não apenas recebam, mas devolvam a energia que receberam.

Por que os filhos devem dar algo em troca?

Garota dando presente para sua mãe

Vejo muitas famílias se perguntando onde erraram ao observarem seus filhos distantes dos seus olhos, quase perdidos. Talvez possam entender que estamos sob uma única lei. Filhos são elementos como aquelas partículas, precisam saltar para se tornarem completos e capazes. Os pais são o núcleo do sistema e por algum tempo a fonte de energia que os abastecem para saltarem experienciando novas “órbitas”. 

O que desequilibra o sistema é que muitos pais se perdem e continuam fontes onde os filhos se abastecem sem oferecer nada em troca.

Cada vez que retiram energia do sistema, esses filhos saltam e quanto mais saltam mais distantes do núcleo se encontram.

Se observassem e se permitissem aprender com a natureza, veriam com clareza o equívoco que cometem ao não exigir que o filho devolva a energia que foi absorvida. Somente ao devolver cada parte de energia que retiraram podem saltar de volta em direção ao núcleo e, somente neste movimento podem evoluir e compreender seu papel no seio familiar.

Como pais podem ajudar os filhos a realizar seu papel?

Criança ajudando mãe e avó a cozinhar

Evolução nos remete a iluminação. Quanto mais evoluídos mais iluminados nos tornamos. Toda energia absorvida precisa ser devolvida seja de que forma for. No início a criança recebe uma quantidade imensa de energia do sistema para sobreviver e deve devolve-la em forma de graça, obediência e carinho. A medida que cresce precisa ser ensinada a devolver o que recebe em forma de cuidados com as próprias coisas, em pequenas terefas como a arrumação do quarto, cuidado com os brinquedos, respeito com as outras pessoas, entre outros. Posteriormente devem devolver de acordo com o que recebem.

Quando falamos de devolução é preciso que os pais entendam que não estamos falando em cobranças por desempenho ou por excelência. Isto se torna pressão o que é muito diferente.

O que estamos falando é de fazer a criança entender e ser inserida como parte do sistema família com direitos mas também com deveres. O erro que os pais têm cometido é o de nada exigirem se seus filhos e, a medida em que crescem, continuarem da mesma forma: fontes inesgotáveis de energia. Assim seus filhos saltam a cada vez que tiram deles energia, para novas órbitas cada vêz mais distantes do núcleo familiar. Ao não devolverem nada para o sistema, não evoluem, não se iluminam.

E esses pais se perguntam: porque meu filho esta cada vez mais distante de mim? Logo eu que lhe dou tudo? Sinto dizer mas você financiou essa viagem deu-lhe passagem e passaporte.

Concluindo

Criança colaborativa lavando a louça

Exigir colaboração dos filhos sempre, é a chave que abre as portas que o trazem para perto de nós. Não tranque a porta e jogue esta chave fora. Não pense que colaboração é algo ruim para eles pois, ao contrário, é o que lhes trará mais alegria e felicidade e, principalmente, proximidade ao seio familiar que os faz recordar sempre que são únicos, mas fazem parte de algo maior a que devem sempre respeitar e valorizar e colaborar. Mostre a seu filho que ele é importante para o sistema tanto quanto o sistema é importante para ele  mas que ele serve ao sistema e não o sistema  a ele. Evite que seu filho aprenda que é a peça mais importante da família para que quando estiver no sistema maior, no sistema social não se decepcione com a sua real condição de  elemento que tem valor pelo que contribui e não pelo que usufrui.

Tive gêmeos, e agora?

Bebês gêmeos

Ter gêmeos não é fácil. Quando se chega no consultório do médico e se descobre a novidade ocorre um misto de alegria e medo que não sabemos como explicar. Depois vêm os difíceis momentos em que se havia pensado tudo em um, mas tem-se que dobrar tudo: roupas, carrinhos, cadeirinhas, mamadeiras, escola, enfim, tudo. É assustador no início, mas a experiência naturalmente começa a se tornar maravilhosa com o tempo. O grande problema é que, como os filhos nasceram juntos, alguns pais possuem uma dificuldade enorme de compreendê-los como indivíduos diferentes, e este é o grande erro que se pode cometer para o seu desenvolvimento natural como seres humanos.

Entenda que são irmãos, mas pessoas distintas

Gêmeos com roupas diferentes e olhares diferentes

O primeiro passo é você entender que recebeu duas crianças frutos de uma mesma gestação, porém totalmente diferentes apesar de parecerem idênticas. 

Por mais que haja semelhanças físicas entre elas, existem ali duas mentes completamente únicas e em processo de evolução. Para nos orientar neste sentido basta nos lembrarmos que suas impressões digitais os distinguem e notar que já na primeira infância eles se mostram diferenças claras em suas preferências.

Não raramente gêmeos podem ter personalidades muito diferentes, visto que os traços de personalidade são influenciados pelas experiências que vivem e como eles as experimentam internamente. Embora o senso comum diga o contrário, a ciência aplicada à psicologia tem demonstrado que as experiências são muito mais determinadas pela maneira como o indivíduo as vivencia do que pela forma crua como as experiências se lhe apresentam. 

Nós sempre nos questionamos quando observamos irmãos que trilham caminhos muito diversos na vida. Nos perguntamos:

“Como podem ser tão diferentes sendo filhos dos mesmos pais e tendo sido criados no seio da mesma família?” 

Isto acontece justamente porque o meio pode sim influenciar o indivíduo, mas não determina por completo o resultado. Ainda há o registro peculiar do indivíduo em relação às experiências vividas.

Entendendo essa complexidade fica mais fácil para os pais entenderem que, apesar de seus filhos serem gêmeos, nunca serão idênticos.

Mesmo que tenham personalidades parecidas, têm identidades diferentes que precisam ser respeitadas e reforçadas, nunca se deve buscar buscar o contrário.

Acolha as diferenças

Pais com as filhas

Além de entender que são diferentes é preciso que os pais aprendam a acolhê-los. E não se iluda, isto deve acontecer desde o início, se possível desde a gestação. Você gerou dois indivíduos, se esqueça disso por um minuto e saiba que corre grandes riscos, pois um indivíduo que não possui individualidade é um indivíduo que sofre copiosamente. 

Sei que é tentador ver a ambos como cópias exatas e reforçar esta imagem vestindo-os com roupas iguais. Este é um grande erro que acaba se perpetuando pelos anos da infância e pré adolescência e pode causar muita confusão interna nestas crianças, considerando que faz com que percam sua identidade. 

Se você observar com atenção, gêmeos, mesmo quando considerados idênticos, sempre têm algumas características físicas que os diferenciam e caraterísticas de personalidade muito particulares. Então, ao invés de reforçar suas semelhanças, ajude-os a definir a sua identidade acolhendo as diferenças sem comparações.

Vista-os com roupas diferentes desde o início. Você vai perceber claramente como isto é determinado pela própria criança e não por você. Faça o enxoval com peças diferentes e quando você for vesti-los vai notar que sabe exatamente quais roupinhas combinam com cada um. Você vai se surpreender como isto é interessante e uma experiência que só quem possui gêmeos pode viver.

A medida em que forem crescendo, maiores diferenças serão percebidas. Acolha essas diferenças sem tentar encaixá-los em um mesmo padrão. 

Lembre-se: você tem dois filhos que por força da natureza nasceram no mesmo dia, frutos de uma única gestação. Dois filhos que precisam ser vistos assim: separados, distintos e diferentes.

Como entender o amor para com estes filhos?

Pais e filhos gêmeos

O amor nada espera, portanto não se mede pelas expectativas. É a capacidade de se dar sem qualquer cobrança, de querer o bem do outro mesmo quando isso fere os nossos desejos. O amor nos permite ultrapassar os limites até mesmo dos nossos instintos de auto proteção e auto preservação. Imagine uma mãe de vários filhos, qualquer um que dela necessitar para sobreviver ela tudo fará por ele, certo? Mesmo que tenha que oferecer uma parte de si. Um exemplo claro ocorre quando algum filho necessita de doação de órgãos: nunca vi um caso de uma mãe se negar a doar um rim para um filho sendo ela compatível, independente do filho que seja. 

Nunca as vi questionar de ser aquele filho o mais rebelde ou menos merecedor em relação aos demais. Isto é amor. O amor se apresenta em atos, não em sentimentos. O amor é divino, o gostar é humano. O amor não se limita, o gostar é determinado por satisfação de desejos e vontades. Se mede por merecimento que criamos em relação às atitudes que correspondem a nossa maneira de ver o mundo, de julgar as atitudes alheias inclusive dos nossos filhos. 

Sendo assim, conclui-se que uma mãe vai gostar mais daquele filho que lhe dê mais atenção, que lhe demonstre mais afeto, que lhe ouça e esteja mais presente em sua vida porque essas atitudes satisfazem à expectativas internas de todas as mães, mas vai amar a todos. Você pode se permitir sentir-se assim sem culpa porque este gostar de maneira diferenciada está presente em todas as mães apesar de uma grande maioria não o admitir pela necessidade de se encaixarem num estereótipo de mãe imposto sobre elas.

Como as brigas do casal os afetam?

Pais brigando e filhos afetados pela briga

Outro comportamento que atua de forma brutal sobre gêmeos é a tendência de cônjuges que têm uma vida conjugal ruim, muitas vezes buscarem nos filhos apoio para se fortalecerem elegendo um deles como seu favorito. Isto aumenta as comparações entre ambos como se os pais estivessemm em uma disputa por serem melhores pais individualmente. Começam a comparar o desempenho escolar, as capacidades de cada filho como se fossem um troféu pessoal. Esta competição acaba se expandindo a se perpetuando entre os irmãos, o que destrói a relação entre eles. 

Nesse cenário macabro, os filhos, para corresponderem às expectativas daquele cônjuge que o escolheu, começam a denegrir a imagem um do outro desmerecendo suas conquistas na tentativa de minimizar as próprias limitações. Isto é devastador pois fere a auto estima de ambos. O que se sente humilhado perde sua capacidade de enxergar-se dentro de suas capacidades e o que humilha incorpora uma falsa capacidade pois não busca identificar e superar suas limitações e sim escondê-las evidenciando e aumentado as limitações do irmão perante os pais. 

Esses pais projetam nos filhos as divergências existentes entre eles e os filhos, sem saber lidar com essas situações, as incorporaram e tomam para si este comportamento disfuncional que não lhes pertence. Isto pode levar ao rompimento dos laços fraternos que deveriam existir entre eles a medida em que destrói a admiração e respeito entre os irmãos.

O que as próprias crianças reclamam em relação aos pais e você não deve fazer?

Quando atendo pacientes que têm irmãos gêmeos a queixa é sempre a mesma:

Meus pais querem que eu seja igual ao meu irmão mas eu não sou. Tudo que faço me comparam e me cobram e eu não aguento isso. Tudo que compram pra mim, compram pro meu irmão e vice versa mesmo quando apenas um de nós precisa daquilo”.

Vou lhe contar alguns casos esperando que você não se identifique para com eles, pois são comportamentos de pais que geram filhos com sérias dificuldades:

  1. Um adolescente me disse certa vez que pediu ao pai um chuteira e ele comprou um par para o irmão também, mesmo que somente ele jogasse futebol;
  2. Um outro me disse que o pai comprou um tênis para o irmão mesmo sem necessidade para compensar a chuteira que estava lhe dando. Isto o deixava muito chateado; 
  3. Um terceiro, disse-me que fazia natação e detestava mas tinha que treinar porque o irmão era competidor.

São situações corriqueiras no consultório, adolescentes adoecidos puramente por não poderem viver na sua própria identidade. Personalidade e individualidade são inerentes a cada ser e precisam ser respeitadas. Não espere deles comportamentos semelhantes e não se decepcione com as diferenças. Também não se cobre e se culpe por sentir-se diferente em relação a cada um deles. 

O que fazer então? Como atuar?

Pais com filhos gêmeos sobre a cama

Se você tem filhos gêmeos você precisa focar em realizar estes pontos:

  1. Deixe cada um ser ele mesmo;
  2. Dê a cada um deles a atenção que merece sem se culpar;
  3. Incentive as diferenças
  4. Respeite as escolhas
  5. E principalmente: evite comparações.

Nunca se cobre ou sinta-se culpada por seus sentimentos em relação a cada um. Saiba que as mães amam seus filhos igual mas gostam diferente. Muitas mães sentem-se culpadas por terem sentimentos diferentes em relação aos filhos principalmente se forem gêmeos. Isto se dá pela cobrança que verte sobre as mães de serem seres quase que divinos. Jamais confessam para si ou para os outros seus sentimentos porque acham que apenas ela sente dessa maneira. 

Aprenda então uma verdade libertadora: toda mãe tem sentimentos diversos porque são humanas e não divinas, limitadas e não perfeitas.

Quando lhe perguntarem se ama os seus filhos igual pode responder que sim pois é verdade. O amor transcende o humano começa onde o termina o gostar. Pois o gostar está sujeito a satisfação das expectativas que criamos em relação ao outro. Portanto quando mãe, você vai gostar mais daquele filho que satisfaz ao maior número de suas expectativas. 

Portanto, o maior erro que os pais podem cometer com filhos gêmeos é se sentirem obrigados a moldá-los dentro de um mesmo padrão e satisfazer suas vontades por medo de estarem fazendo diferenças entre eles.

A maioria compra os mesmos brinquedos, como se eles tivessem o mesmo gosto. Presenteia a ambos, mesmo que apenas um deseje ou mereça ser presenteado. Exigem de ambos o mesmo desempenho quando suas capacidades são voltadas para objetivos diferentes. Aceite suas diferenças, respeite-as.

Conclusão

Ter gêmeos é uma oportunidade de crescimento pessoal duplicada. Exige de nós adaptações e transformações em dobro. Exige um olhar apurado para enxergar as diferenças, um sentimento capaz de acolher as divergências. Um autoconhecer capaz de nos permitir seguir em frente sem nos perdermos em projeções múltiplas. Ouvidos e sentidos apurados para nos conectarmos com a beleza sutil de diferenças tão semelhantes que possam despertar o amor que vem único apesar de um gostar diverso.

Seus filhos estão muito distantes de você? Saiba o porquê e como aproximá-los novamente

Que o ser humano é um ente complexo todos nós sabemos. Mesmo os bebês e crianças, ainda tão pequenos e com pouco aprendizado sobre o mundo, são seres extremamente complexos e inteiros, com suas características, pensamentos e o mais importante: com sentimentos particulares e únicos.

Toda essa unicidade humana permite também algo único de nossa espécie: as pessoas podem se ligar umas às outras, se compreender, se sentir. Por mais que as ligações mentais possam ocorrer, a verdade é que

a única coisa que pode ligar verdadeiramente uma pessoa à outra são os sentimentos criados entre elas, ou seja, os vínculos que partilham e que desenvolvem em conjunto.

Existe um momento melhor para criar laços com meu filho ou filha?

Isso é assim para todos os seres humanos, sejam amigos, namorados, conhecidos ou colegas de trabalho. Saiba que entre mães e filhos não é diferente. Por mais que exista uma ligação biológica forte, esses laços precisam ser criados e desenvolvidos. O que nem todas as mães sabem é que há um momento ideal para o desenvolvimento inicial desses laços:

precisam ser criados quando a criança está desenvolvendo sua personalidade, ou seja, nos sete primeiros anos de sua vida. 

Crianças e pais brincando

Os laços que se criam nesta época são muito fortes. Eles têm um potencial enorme de criar vínculos profundos entre mãe e filhos. Perdemos nossos filhos quando deixamos escapar esta grande oportunidade. E aí ocorre um grande erro que a maioria das mães cometem: perdem a melhor época do relacionamento para se ligar emocionalmente aos seus filhos.

Se você conseguiu criar laços de afeto nesta época isto é ótimo, se não conseguiu saiba que ainda existe a oportunidade de fazê-lo, mas é preciso que você aprenda que vínculos são completamente diferentes de dependência.

Crie vínculos, não dependência

Mãe alimentando o filho enquanto o filho utiliza o celular

Muitos pais acham que criaram laços com seus filhos quando na verdade criaram dependência. Você provavelmente deve estar se perguntando agora: mas qual é a diferença entre eles? Como faço para criar vínculos e não dependência?

Eu respondo: vínculos são criados com afeto, dependência com cuidados. 

Muitas mães são extremamente cuidadosas e acham que são boas mães somente por:

  • Darem tudo o que os filhos querem;
  • Cuidar de suas roupas com perfeição e zêlo;
  • Dar banho e deixá-lo sempre limpinho;
  • Comprar os alimentos mais caros e lhes dar de comer “do bom e do melhor”.

E perdem a oportunidade de se ligar aos filhos mesmo tendo-os ao seu lado e se achando a melhor mãe do mundo. Companhia não é o mesmo que presença. Apenas o cuidado não cria vínculos, é preciso distribuir afeto. E o afeto gera a relação de intensidade que precisa existir entre mãe e filhos.

Filhos sem vínculos permanecem ao lado dos pais por dependência financeira ou psicólogica mas não por prazer, e por vontade.

Muitas mães perderam seus filhos nos pequenos momentos da rotina diária, quando pensaram que cumprir suas “obrigações” para com eles era o suficiente, que isso preencheria todas as necessidades dos filhos. Assim, essas mães oferecem tudo que o filho precisava  mas não o que ele verdadeiramente necessitava. Consegue perceber a diferença? É muito simples: o que a criança precisa pode ser comprado o que ela necessita não.

Mãe comprando coisas para a filha

Podemos comprar um brinquedo para uma criança mas não podemos comprar a sua capacidade de brincar e se divertir com ele. Podemos comprar roupas para ela no inverno mas não podemos comprar o calor para aquecê-la. Portanto, podemos fazer com que dependam de nós, mas não podemos fazer o mesmo com os vínculos.

Vínculos são criados com afeto, com entrega!

Mãe vinculada à filha

Na vida cotidiana e, é claro, em meu consultório, observo triste  mães cuidando dos filhos sem afeto, sem o aprofundamento na relação necessário e inerente à maternidade, e o grande problema é que os vínculos só são criados quando entregamos ao outro o que está além do necessário. 

É preciso que haja presença, o que é muito diferente de estar fisicamente presente. Presença nos momentos juntos só existe se houver afeto e o afeto só acontece se você estiver focada naquele momento. Se você estiver com seu filho com a mente em outro lugar, você não está presente. É preciso que você entenda isto pois um minuto de presença efetiva vale mais do que horas de estar apenas presente ao lado dele. Presença genuína se traduz em afeto nos momentos rotineiros. O afeto está presente durante o banho, em cada toque, na companhia verdadeira durante as refeições, em cada palavra dita com carinho. E dedicação que vai além do medo de errar e do medo de não corresponder às expectativas que você criou sobre si mesma e que pensa que os outros têm sobre você. 

Muitas mães colocam seus filhos para almoçar diante de uma mesa farta e os deixam ali, se alimentando sozinhos tendo a TV ou o celular por companhia, enquanto se dedicam a coisas que consideram mais importantes. Este é um dos maiores erros que podem cometer. Este  momento é indispensável para a criação de vínculos com seus filhos.

Dê valor ao momento de alimentação

Criança na mesa com pai ocupado

O momento da alimentação é importantíssimo. É um momento que aguça os sentidos  mais profundos da criança e ela precisa se sentir acolhida. Precisa de companhia genuína. Ela está completamente aberta ao prazer naquele instante pois seus sentidos estão a postos. O paladar, a visão, o olfato e o tato estão sendo estimulados ao mesmo tempo o que corrobora para criar memórias na mente dela. Por estar com os sentidos estimulados, seu senso crítico está rebaixado, a audição está livre, assim o que  é dito a ela tende a cristalizar-se em memórias mais facilmente. 

Este é o momento propício para lhe passar valores e não criticá-la ou expor suas falhas. É um momento em que memórias serão fixadas fortemente em sua mente. Se estas memórias são de convivência, de presença dos pais, vínculos fortes serão criados. Quando esses momentos são negligenciados perde-se uma das maiores oportunidades de criação de vínculos. Os vínculos criados nesses momentos são tão fortes que se tornam âncoras em suas mentes. Âncoras são memórias tão intensas que são acionadas pelos nossos sentidos sem que tenhamos controle sobre elas. 

Quem nunca se lembrou da casa da avó ao sentir aquele cheiro de bolo no ar ou da comida que ela fazia quando você ia visitá-la? Esta memória se transformou em uma âncora que leva você a este momento sempre que estimulada. As memórias que vinculam mães e filhos precisam ser positivas e fortes o suficiente para não deixar dentro delas abismos pela sua falta ou dores pela sua negatividade.

Ligue-se ao seu filho pelos momentos positivos, esteja presente

Pais e filho em um picnic

Somente criando vínculos na infância teremos nossos filhos ligados a nós por sentimentos positivos. As emoções vivenciadas nestes momentos serão a base dos sentimentos futuros que irão unir pais e filhos. Nada pode substituir tais memórias.

Boas memórias só se criam com bons momentos, bons momentos só existem se houver afeto, afeto só existe se houver presença.

Momentos perfeitos são ilusões que criamos com nossa mente limitada dentro da nossa capacidade humana, onde o perfeito se resume a momentos onde podemos dar tudo que o nosso filho quer. 

Quando permitimos que ele compre o que ele deseja no shopping, peça os sanduíches mais caros mesmo sem ter fome e depois nos sentamos a mesa lado a lado, cada qual com seu smartphone, destroem-se os laços. Estamos juntos mas não estamos presentes. Estamos em mundo diferentes, sem afeto.

Nos o vemos mas não nos enxergamos. Eles se afastam porque não há vínculos entre eles e os pais. Eles sentem-se cuidados mas não amados. Se alimenta mas continua faminto de afeto. 

Conclusão

Mãe ensinando ao filho

Ser mãe sem a clareza do que significa presença exige muito de nós. Ser mãe com esta compreensão nos liberta da culpa de nossas ausências naturais e obrigatórias. Nos liberta da necessidade de criarmos situações para estarmos a maior parte do tempo ao lado dos nossos filhos. Hoje a maioria das mães têm suas jornadas de trabalho e se culpam por estarem fora por grandes períodos. Fiquem tranquilas pois vocês podem transformar as poucas horas ao lado dos seus  filhos em presença genuína que vai estar na memória deles com tamanha grandeza que nada poderá abalar este vínculo entre vocês. Lembre-se: esteja presente todo o tempo em que estiver ao lado dos seus filhos.