
Quando um relacionamento termina é doloroso para todos. Não importa quem decida inicialmente pela separação: a dor, tristeza e sensação de vazio preenchem os espaços de todos os corações envolvidos.
Para os casais que possuem filhos essa dor pode ser ainda maior. Isso porque não somente o casal compunha aquele sistema, mas a família como um todo. E toda vez que um sistema se desfaz, há forças que atuam para que ele permaneça. Por isso, mesmo quando um casamento se torna tóxico e o casal se sente mal juntos, ainda há tanta dificuldade em dissolvê-lo e seguir em frente por caminhos separados.
E é normalmente nessa situação difícil da separação que os pais ainda precisam lidar com uma outra realidade: percebem seus filhos tristes, desolados e sem chão. A pergunta que surge é: como lidar com a tristeza dos filhos e ajudá-los a superar este momento difícil?
O maior erro que os pais cometem ao se separarem

Um ponto que às vezes passa despercebido para os pais é que o rompimento familiar não deve ser completo.
Este rompimento de laços se dá somente entre os pais e não entre pais e filhos. O maior erro que se pode cometer neste momento é envolver os filhos nesta batalha.
Os sentimentos e emoções negativas que existem entre os pais não são os mesmos que os filhos nutrem em relação a eles. Tentar usar os filhos para atingir o outro destrói os filhos internamente, pois eles são obrigados a ter ações que não condizem com seus sentimentos e isto os fazem sentirem-se culpados, e saibam vocês que, depois de anos de consultório atendendo a filhos nessa situação eu descobri que a culpa os esmaga a alma.
Há uma ligação muito mais profunda entre os filhos e os pais do que entre os cônjuges. Tentar transformar a relação entre eles na mesma relação conturbada que se vive no momento da separação é impossível e constitui um grave erro. Usar os filhos como arma ou bengala é o ápice do egoísmo. Lembre-se: talvez o casal não se goste mais (ou até se odeie) e tenham motivos reais para tal, entretanto é preciso respeitar os sentimentos dos filhos.
Filhos raramente deixam de amar os seus pais, mas o casal pode deixar de se amar com certa facilidade

Deixar de amar pai e mãe é um caminho tortuoso. Você já parou para pensar sobre isso? Se temos dificuldade de deixar de amar alguém que entra em nossa vida quando já somos adultos (como cônjuje ou amigos), como deixar de amar alguém que esteve conosco desde nosso nascimento? Pense nisso. Há laços que se você tentar rompê-los trarão consequências muito difíceis de serem equacionadas posteriormente. Por isso, você mãe, não cometa erros como:
- Falar mal do pai dos seus filhos;
- Tentar convencer os filhos do quanto o pai é desnecessário ou desumano;
- Gerar discórdia entre pai e filhos falando coisas como: “Ele não liga para vocês!”, “Ele não quer estar com você nos momentos em que deveria.”, “Ele não quer saber se você come ou deixa de comer!”;
Enfim, não crie um campo de batalhas que envolva os seus filhos. Deixe-os fora do ringue em que vocês decidiram se engalfinhar, pois eles não possuem maturidade e nem base sentimental para isto. Seus filhos terão que enfrentar a sensação de perda da separação física e isto já será difícil demais. Não complique mais esta situação adicionando dificuldades que as crianças e adolescentes ainda não são capazes de processar.
A origem da tristeza nas crianças e adolescentes

Ver um pai ou mãe partir gera uma grande sensação de abandono na criança. Ela sente que está sendo deixada pelo cônjuge que se vai. Ela não consegue processar a situação e entender que o cônjuge que vai está deixando o outro cônjuge e não a ela. Esta é a origem de sua tristeza. A sensação de abandono que ela sente é tão grande e incontrolável que a faz mergulhar em uma tristeza sem tamanho que pode se refletir:
- Nos estudos: a criança pode ficar mais desatenta, sem vontade para os estudos ou para ir para a escola;
- Na alimentação: perde o interesse até mesmo em comer as coisas que mais gosta;
- Em seu ânimo: fica desanimada para realizar várias tarefas, por exemplo, mesmo se gosta de futebol ou balé acaba por ficar sem vontade de realizar a atividade.
E é por conta dessa tristeza que muitas crianças manifestam uma vontade inata de querer unir os pais novamente.
Você já deve ter podido presenciar cenas de crianças ou adolescentes, mesmo novinhos, falando coisas como:
- “Queria que meus pais voltassem a ficar juntos.”;
- “Ah, eu gostava mais de quando a gente viviamos todos juntos.”;
- “Peço a Deus todas as noites para meu pai (ou minha mãe) voltar para casa.”;
Saiba que isso é natural e acontece com várias crianças. Na verdade sua mente está buscando caminhos para que aquela dor termine, e a volta da família como era antes é o caminho mais claro que ela enxerga. Ainda que os filhos sejam adolescentes, você vai perceber os movimentos que eles fazem para tentar unir os pais novemente.
Talvez você se irrite pensando que ele já é adulto o suficiente para entender a situação, mas saiba que o raciocínio neste momento está ausente diante das emoções que preenchem todo o seu ser. Eles estão tentando se livrar da dor por traz da sensação de abandono que, devido à partida de alguém que eles amam, os está machucando por dentro.
O que fazer para ajudar os filhos?

Para ajudá-los você precisa entender que eles são pessoas que estão ali a mercê de suas ações. Você está ferida porque suas expectativas foram frustradas e por isso sente raiva do cônjuje, mas seus filhos sentem amor e não devem deixar de senti-lo.
Não tente fazer com que eles sintam o que você sente, com que vejam o outro com o seu olhar pois este olhar se opõe aos sentimentos das crianças ou adolescentes. Fazer com que eles vivam com essa culpa por não sentir o que você quer que eles sintam pode gerar doenças psíquicas sérias em seus amados filhos.
Deixe que ele ame quem você não ama mais. Deixe que ele conviva e desfrute da companhia de quem você não deseja mais e sem se sentirem culpados por isto. Nunca tente manchar a imagem do pai ou mãe deles, pois estará destruindo suas referências e um ser humano sem referências é um ser humano órfão de base familiar.
E se foi você quem saiu de casa, faça com que eles sintam que você só mudou de endereço, e que de forma nenhuma os abandonou. Esteja sempre presente na vida dele. Passe tempo com ele. Crie uma rotina que o inclua e quando estiver com ele esteja de verdade. Não tente enganá-lo com uma presença ausente (por exemplo estar presente com ele mas sempre com o celular na mão fazendo outra coisa), isto é doloroso demais para a criança ou adolescente.
Muitos pais quando estão com seus filhos o fazem sem estar ali. Os deixam na casa com seus brinquedos como se isto bastasse e se iludem travestindo-se de pais presentes.
Essa ausência é pior porque a criança sente você ausente. Isso porque a criança não sabe como trazê-la para sua companhia novamente. Quando você está longe ela sabe que pode ligar e pedir sua presença, mas você estando ali, ela se sente impotente porque não sabe o que fazer.
Quando se dispuser a estar com seu filho esteja com ele literalmente e nunca, nunca prometa que irá vê-lo ou buscá-lo para uma atividade e não compareça, pois, cada vez que isto acontece ele experimenta novamente a dor do abandono tão intensa como no dia que você partiu. Tenha compromisso com ele e seja fiel às expectativas dele. Assim a tristeza irá diminuindo pois o abandono da partida vai sendo substituído pelo prazer enorme dos reencontros.