Nossos adolescentes têm vivido tempos difíceis. Estão envolvidos em uma competição sem precedentes onde não há chances de vitória. Se nas gerações anteriores nos comparávamos aos filhos dos vizinhos e amigos da escola, hoje eles se comparam com adolescentes ao redor de todo o mundo. Saiba que isso é desesperador e os deixa sem chão.
Navegam pelas redes se nivelando a pessoas irreais em situações perfeitas, dentro de um padrão de beleza inexistente. O momento social que o mundo vive tem levado nossos rapazes e moças a quadros de ansiedade e depressão como nunca se viu antes. Eles estão vivendo um tempo de transição física e mental dentro de um mundo de padronização em todos os campos. Enquanto isso, nós (os pais) estamos nos despindo de aspectos importantes na educação dos filhos, o que tem contribuído para desequilibrá-los ainda mais.
Temos diminuído o número de rituais, mas eles são importantes
Os rituais sinalizam que um ciclo está se fechando para que se inicie outro. Hoje tudo é padronizado e continuado, até a educação se tornou continuada. Antes tínhamos o jardim de infância, o período da primeira a quarta série, o primeiro grau, o segundo grau, depois vinha o e vestibular e faculdade. Eram períodos bem marcados. A medida em que a criança se desenvolvia, ia paralelamente vencendo etapas para alcançar um novo ciclo. Haviam comemorações que marcavam os momentos de transição. Mesmo entre os próprios adolescentes haviam brincadeiras específicas para cada época. Até participar de determinadas diversões era uma conquista que só se obtinha em determinada idade. Vários desses ritos não existem mais ou não são comuns.
A importância do processo educacional anterior residia no fato de a criança perceber, dentro do fluxo, que estava crescendo, ficando mais velha porque já havia concluído determinado período e foi ela a responsável pelo seu progresso. Foi ela quem trilhou o caminho. A educação continuada com a obrigatoriedade de aprovação, juntamente com o desapego aos ritos e às tradições quebraram esta possibilidade. Tudo isso tem removido dos nossos filhos a possibilidade de compreender em que fase estão e como chegaram até ela. Talvez não tenhamos percebido o impacto destas mudanças, mas afirmo a vocês que é imenso.
É preciso deixar que os adolescentes se frustrem
Juntamente com a remoção dos ritos, surgiu uma lógica de criação de filhos que retira de seus caminhos qualquer possibilidade de sofrimento. É como se fossem criados em redomas, para experienciar um mundo perfeito, onde são perfeitos, não erram e nada de mal pode lhes acontecer. É preciso dizer abruptamente para os pais: esse mundo não existe e o fato de fingirmos sua existência tem feito muito mal aos jovens.
Amadurecer é aprender lidar com as decepções. É aprender a evitar que elas aconteçam por meio do esforço pessoal. Assim as vitórias e conquistas passam a possuir um valor maior, pois houve um empenho para que ocorressem.
A cada conquista, a cada vitória reconhecemos os nossos valores. Aquele que não amadurece sua capacidade de lidar com as frustrações dentro dessa premissa, tentará outros meios para superá-las. Um deles já é comum entre nossos adolescentes: o uso de drogas.
Nossos jovens estão buscando aceitação, não por um grupo restrito como no passado, mas por um grupo que ultrapassa todas as fronteiras, estampando um sucesso ilusório e fútil cujos valores são “ter” e “ser igual“. Não nas roupas ou estilo apenas, mas nos rostos, nos corpos, nas características, no jeito de lidar com a vida. Viver assim os tem levado ao adoecimento, por isso vemos um número alarmante de púberes tomando doses cavalares de medicação psiquiátrica. Precisamos rever nossos conceitos de criação de filhos, precisamos aprender a enxergar quando nossos filhos precisam de ajuda.
Os sinais de que eles precisam de ajuda
Se formos capazes de perceber os sinais que eles nos dão poderemos ajudá-los. Observar e oferecer presença genuína com atenção plena é o que fará a diferença:
- Se eles se mantiverem em seu quarto o tempo todo pode ser sinal de dificuldade de socialização;
- Se não convivem com amigos da mesma idade e sim com amigos de idades muito acima ou abaixo das suas, fique atento pois em ambos os casos é sinal de desajuste;
- Se evitam ou se negam conversar com os pais ou familiares podem estar se sentindo excluídos;
- Se estiverem se machucando fisicamente é um sinal de que estão experimentando uma dor tão profunda que somente uma dor física pode aliviá-la;
- Observe as companhias e os hábitos; muito sono e dispersão pode estar relacionado ao uso de maconha;
- Agitação e bem estar seguida de angústia e desespero, ao uso de anfetaminas;
- Falta de apetite e de sono sem causa aparente, olhar perdido, comportamento agressivo, nariz irritado, pode se associar ao uso de cocaína;
- A agressividade pode ser também sinal de depressão. Eles podem ficar agressivos por não saber lidar com algumas emoções como a tristeza.
Todos os pais precisam de ajuda, mas poucos admitem
Adolescência é período de transformações e conflitos, não de tristeza e ansiedade. Se você observar algum desses sinais em seu filho, fique atenta e procure ajuda profissional. Um profissional competente ajudará seu filho e conhecer e reconhecer suas limitações e enxergá-las apenas como características pessoais que podem ser usadas positivamente. Vai ajudá-lo a perceber o seu próprio valor o que lhe devolverá o equilíbrio, a paz e auto confiança.
Excelente texto. Obrigada.