Sou psicanalista, terapeuta e hipnoterapeuta, mas quando me perguntam minha profissão sempre respondo em conjunto: sou mãe! Isso porque esta é a tarefa mais difícil entre todas que eu já realizei e me orgulho profundamente da mãe que sou, apesar de saber que cometi muitos erros, que são naturais no processo.
Este orgulho surge naturalmente, entretanto isso não faz com que eu deixe de lado o que sinto, senti e vivi na criação deles e é disso que quero falar aqui hoje.
A verdade é que os sentimentos em relação aos nossos filhos são tantos que muitas vezes não sabemos exatamente o tamanho desse amor que sentimos.
Também não aceitamos aqueles sentimentos escondidos que surgem e que precisamos aprender a aceitá-los para trabalhar com eles e tirar o melhor de nós e de nossos filhos. Vou descrever alguns desses sentimentos agora.
5 sentimentos que escondemos em relação a nossos filhos
Pare um pouco, veja se algum desses sentimentos nunca ocorreu com você… você olha para o seu filho e sente:
MEDO

Do que está vivendo, do futuro, medo de errar. Saiba que esses são sentimentos comuns a toda mãe, você não está sozinha. Neste caso é um sentimento tão comum que às vezes nem temos vergonha de compartilhar com outras pessoas, nem sempre fica tão escondido.
ARREPENDIMENTO

Muitas vezes nos sentimos arrependidas até mesmo de termos parido nosso filho. É difícil admitir, mas ambas sabemos que é verdade. Lembramos do quanto éramos livres antes do seu nascimento:
- Do quanto a vida era mais fácil e menos dispendiosa;
- Do quanto tínhamos tempo para nós mesmas;
- Dos sonhos que tínhamos e queríamos seguir.
Escondemos esse sentimento porque ele faz com que nos sintamos mal, nos sintamos não adequadas para o que a sociedade espera de nós. É natural que este sentimento escondido faça-nos sentir tão mal e não nos sintamos no direito de compartilhar que lá no fundo há um pouquinho de arrependimento.
RAIVA

Em certos momentos sentimos raiva. Raiva genuína de onde às vezes até brota alguma agressividade. Nos sentimos horríveis por achar que somos as únicas a termos tal sentimento, afinal, nossas amigas sempre nos dizem que só sentem amor, e esta pequena mentira que elas contam acaba nos condenando ao lugar de péssima mãe, numa análise que vem de dentro de nós mesmas. Então nos protegemos atrás de comportamentos amorosos e seguimos com nossa culpa.
CIÚMES
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Porque todos olhos que te viam já não te enxergam mais. Estão voltados para a criança. Seu marido, amigos e familiares a enxergam sempre antes de você. Você quer ser vista com a importância que tinha antes, o que não é possível mais. Isto é a raiz do ciúme, e você pode até começar a direcionar um pouco de agressividade para aqueles que antes tinham muito mais olhos para você. Sem compreender a normalidade desses sentimentos, você segue sem saber o que fazer e sentindo-se ridícula e infantil por ter esse tipo de sentimento.
DECEPÇÃO

Afinal, a criança sempre é diferente daquilo que sonhamos e planejamos. Nunca é exatamente o resultado da nossa expectativa. Daí, surge uma pequena inveja do filho da minha amiga, lindo e tão perfeito mas que só o é porque o vemos em poucos momentos. Desta comparação surge um pensamento:
“Opa! Mas este que é o meu filho e eu tenho que amá-lo como é.”
E surge mais uma vez a culpa. Que agora pode desencadear uma pequena revolta. Da revolta com nossa expectativa e da culpa por sentí-la, surge a necessidade de dedicação genuína a esta missão que nos foi dada, a missão de mãe.
NÃO SABE O QUE SENTE?
São “emoções‘’ entre amor e raiva, querer e não querer, proximidade e distância, carinho e rejeição, é tudo e nada ao mesmo tempo. Então você se perde nessa quantidade enorme de sentimentos não compreendidos e o único papel em que se encontra é o de mãe! Esquece-se de todos os outros papéis:
- Filha;
- Mulher;
- Esposa;
- Amiga.
E concentra-se em apenas um, fazendo de tudo sem medir esforços, e segue se obrigando a ser a melhor mãe que conseguir, cumprindo todas as expectativas que estão sobre você, enfrentando a tudo e a todos em defesa deste filho.

Então você pára e olha e percebe que precisa lidar com um filho:
- Que chora muito e não te dá espaço;
- Que não vai bem na escola;
- Que briga muito com os irmãos;
- Que não lhe obedece;
- Que é diferente do que você sonhou.
Aí você se pergunta: onde foi que eu errei?
Onde foi que errei?
Você não está sozinha. Todas nós erramos, erramos feio, erramos muito. Mas sabemos que tudo que fizemos foi tentando acertar pois fomos guiadas pelo desejo de vê-los felizes. O nosso problema é que não nos ensinaram que o “amor’’ liberta, e a verdade é que ele também aprisiona.
Se você estiver no início da jornada pode aprender a errar menos. Se já fez este caminho pode entender onde e porque errou e criar condições para minimizar as consequências destes erros, tomando atitudes acertadas no presente. Para isto é preciso que entendamos que o ser humano evolui em ciclos. Hoje vamos falar dos dois primeiros ciclos, de 0 a 14 anos, e eu vou dividi-los aqui em outros menores para explicar melhor e te dar dicas de como lidar com seu filho em cada fase.
Fase 1 – Do parto a um ano e meio

A criança só deseja. Desejar é o sentimento que nos leva a nos livrarmos de tudo aquilo que nos incomoda e nos causa dor. O prazer nada mais é do que livrar-se desse incômodo. Nesta fase… Ler mais>>
Fase 2 – De um ano e meio aos 3 anos e meio

É o ciclo o mais importante, pois neste período a personalidade está se moldando de acordo com as memórias que estão sendo fixadas em sua mente. A interação pais e filhos será fundamental… Ler mais>>
Fase 3 – De 3 anos e meio aos 7 anos

Neste período a introjeção das funções paterna e materna tende a consolidar-se. A criança ainda estará tentando ocupar mais espaço e ampliar seus limites… Ler mais>>
Fase 4 – De 7 anos e meio aos 14 anos

Neste ciclo a criança precisa ter internalizado as funções materna e paterna, pois se encontrará em situações onde não terá a presença dos pais para direcioná-la… Ler mais>>
Conclusão
Em qualquer período em que seu filho esteja e precise de ajuda, há sempre caminhos que você pode trilhar para chegar até ele. Porém, estes caminhos devem levar você ao encontro da criança negligenciada ou mimada dentro dele. É esta criança que precisa de cura. É esta criança que precisa de você e somente ela vai aceitar a sua ajuda. Você pode aprender a reconhecer esta criança observando as características físicas e comportamentais do seu filho ou filha. Ao encontrar a criança você poderá supri-la apenas com o que faltou sem excessos, sem exageros.

A falta desta clareza leva muitos pais a se perderem, sucumbindo às exigências dos filhos ao invés de suprir as necessidades que não foram supridas no momento oportuno.
Eles não conseguem perceber que o que faltou na verdade foram limites, foi um não firme e bem colocado; e assim continuam dizendo “sim” às suas exigências. Não percebem que foram cuidadosos mas não foram amorosos, que criaram laços com seus filhos mas não criaram vínculos. Laços criam dependência, vínculos fazem nascer o amor.