Seu casamento está em crise? Ou é uma crise perpétua em forma de casamento? Talvez você já nem saiba bem. É aquilo que muitas de nós já vivemos:
- As discussões acontecem por qualquer motivo ou mesmo sem que eles existam;
- O amor é algo ausente e mesmo assim o relacionamento persiste;
- Você não sabe porquê permanece nesta relação e também não sabe como pôr um fim a ela.
Eu sei que, se esse for o seu caso, você já não sente amor, admiração ou qualquer outro sentimento positivo pelo homem que você tem ao seu lado, afinal ele “é apenas o seu “marido”, nada mais. Alguém que conheceu quando já era adulta, portanto não foi o seu “primeiro amor”. No entanto, é preciso que você entenda que para o seu filho ou filha a coisa é bem diferente.
As brigas dos pais aos olhos dos filhos
É um sentimento profundo, arraigado, e que não vai mudar com facilidade. Quando ele os vê brigando, não consegue se posicionar de um lado ou de outro, pois são duas pessoas que têm o mesmo grau de importância para ele.
A briga acontece fora, mas a luta acontece dentro do peito e da mente dele que tenta se proteger da dor de ter que dar razão a um dos dois.
Ele se sente tão pressionado que pode adoecer fisicamente ou psicologicamente para se proteger dessa decisão. Se o adoecimento for físico, será perceptível imediatamente, mas se for psicológico haverão consequências graves, porém de longo prazo, que não serão tão perceptíveis no momento.
A dor que seu filho sente talvez seja inimaginável para você caso não tenha vivido a mesma situação em sua infância. Ele sofre frente a necessidade de escolha e posicionamento, e pela incapacidade de pôr fim à briga. Sente-se impotente, fraco e sua autoestima acompanha essas emoções.
Meu filho pode ficar traumatizado?
Muito tem se falado sobre traumas e muitos pais até tornaram-se permissivos demais ante a possibilidade de traumatizarem seus filhos. Vêem o trauma como algo grave e portanto o vinculam a situações também graves. Fato é que o trauma acontece todas as vezes que vivemos uma situação sem gozo, sem prazer ou que nos cause dor. Acontece também quando existe o gozo mas seguido de culpa.
Nossa mente está sempre atenta para nos proteger da dor portanto busca prazer em todas as situações.
Situações vivenciadas sem prazer são registradas como memórias dolorosas e continuarão nos fazendo reviver a dor sofrida para que seja reestruturada. Esta memória é o trauma em si.
Pense no seu filho ouvindo e sentindo todas as ofensas proferidas em relação às pessoas que ele mais ama e também originadas nessas mesmas pessoas. A mente dele não consegue processar isso e não tem como protegê-lo, uma vez que a proteção que poderia buscar está justamente nessas mesmas pessoas. É algo assustador. Sem saída ele então buscará uma causa para o conflito a fim de aplacá-lo, e a causa se voltará justamente para quem mais depende e sobrecarrega os pais: ele mesmo.
Quais são as consequências na psicologia da criança ou adolescente?
Um filho de pais conflituosos acaba se vendo como o causador, a fonte do conflito e passará a não gostar de si pois é o elemento que desencadeia dor em si e nos outros.
Serão os dois mecanismos de defesa mais presentes neste adulto:
- A submissão protege a criança frágil que não tinha forças para aplacar a própria dor e se submeteu a situação, encolhida apenas sofrendo;
- A agressividade o remete a criança que desejava pôr fim ao que vivia como um adulto forte e poderoso mas não tinha poder e força para fazê-lo.
Agora esta criança no corpo do adulto e sem a capacidade de se proteger ante as dores que a vida lhe apresenta, tentará destruir as fontes que possam lhe proporcionar qualquer sofrimento, mesmo que esta possibilidade exista só na sua imaginação, pois até mesmo sua imaginação estará conectada às suas memórias da infância.
O que fazer para proteger o meu filho (a) se não consigo parar com essas brigas de casal?
Sei que é difícil superar essas brigas. Muitos casais vivem anos, senão dezenas deles, sem conseguir superá-las. Por isso, não tenho a pretensão de, em um pequeno texto como este, tentar resolver o seu problema. No entanto, posso aqui te atentar para o que é mais importante: encontrar uma forma para vocês redirecionarem parte dessa energia que empregam nas brigas para uma direção focada no respeito.
- Respeite o seu futuro: pois você será mãe eternamente, e ver um filho em sofrimento é uma dor que nenhuma de nós deseja ou merece experimentar;
- Respeite o presente e o futuro do seu filho: reveja seus valores e atitudes. Reavalie os seus relacionamentos e pense com clareza sobre as atitudes que está tomando.
Lembre-se que você pode dialogar sem ofensas e se isto não for possível repense sobre o casamento que você está preservando. Pois você poderá estar se casando dia após dia com a dor em nome de um amor que nunca existiu e o pior: estará ensinando ao seu filho que amor e dor são parceiros o que o levará a experiências deturpadas no futuro, limitando seu filho ou filha de viver um casamento de amor pleno quando for a época dele ou dela, ou condenando-os a solidão opcional em negação à possibilidade de viver exatamente o que viu você vivendo.
Você é o modelo dele (a) seja para seguir ou desprezar, e seja qual for a escolha que se faça estará escravo das suas memórias e não de suas próprias vontades, portanto, tome cuidado com o exemplo que você deixa para suas próximas gerações.