O Dia dos Namorados e o Silêncio Entre Casais

Na semana do dia dos namorados, muitos casais celebram o amor. Mas, ao observar atentamente os casais ao nosso redor, percebemos algo desconfortável: há casais que já não se olham com paixão, que compartilham a casa, os filhos, as contas — mas não mais o encantamento. A admiração, ingrediente essencial do amor romântico, parece ter desaparecido.
Curiosamente, esses casais costumam estar juntos há anos. E é comum perceber que o distanciamento parte, com frequência, da mulher. Muitos podem contestar esse ponto dizendo que os homens também são responsáveis, que há infidelidades, omissões, desrespeito. Tudo isso pode ser verdade. Mas o que queremos refletir aqui é por que tantas mulheres perdem o interesse e a admiração por seus maridos especialmente após a chegada dos filhos.
Quando a Mulher Vira Mãe do Marido

Há uma verdade silenciosa em muitos relacionamentos: mulheres carregam, além das responsabilidades do lar e da maternidade, o fardo de serem também mães emocionais de seus parceiros. Em vez de serem cuidadas, elas cuidam. Em vez de serem protegidas, elas protegem.
Esse desequilíbrio se agrava quando a mulher se torna mãe de verdade. Antes da chegada do filho, ela até sustenta esse papel ambíguo com certo prazer — sente-se importante, necessária. Mas ao segurar seu próprio filho nos braços, tudo muda. Ela experimenta a maternidade autêntica e, de repente, percebe que não há mais espaço para dois filhos em sua vida. O marido, agora visto como alguém fraco, dependente, perde o status de parceiro. Torna-se um peso.
“Uma mulher só deseja o homem que ela pode admirar. Quando a admiração se vai, o amor romântico acaba.”
O Colapso do Triângulo Amoroso
O homem, sem entender o que aconteceu, sente a distância crescer. Tenta se reaproximar, tenta reconquistar, mas muitas vezes o estrago já está feito. A mulher, agora fortalecida pela nova identidade de mãe, se sente completa em cuidar do filho — e já não vê o marido como parte essencial do núcleo.
Esse afastamento silencioso gera um novo arranjo familiar. A criança ocupa o lugar central da relação. A mulher se torna figura de liderança, de proteção, de direção. O homem passa a ser tratado como um coadjuvante, às vezes como uma criança. E ele, por falta de consciência ou por comodismo, aceita esse papel.
O Fim da Admiração e a Morte do Enamoramento

O Dia dos Namorados se torna então uma data vazia para esses casais. Trocam presentes, postam fotos, mas há um abismo entre o que se mostra e o que se vive. A frase mais ouvida entre eles é: “Já fomos namorados, hoje somos casados.” Como se o casamento viesse com a cláusula de renúncia ao amor leve, ao encanto, à admiração. Mas isso não precisa ser assim.
O amor amadurecido não deveria anular o enamoramento, mas sim elevá-lo. O casamento não é o fim do romance — é a oportunidade de torná-lo ainda mais profundo. Quando um homem se torna verdadeiramente parceiro, forte em sua vulnerabilidade, presente com responsabilidade, ele continua sendo visto como o protetor. E quando uma mulher pode descansar em sua feminilidade, sentindo-se amada, ela continua sendo amante e companheira — não apenas mãe.
Ainda É Possível Estar Enamorado?

Sim. Mas exige consciência. Exige que o homem assuma o seu papel de forma madura, sem delegar à parceira o trabalho emocional que é dele. Exige que a mulher reconheça que não precisa carregar tudo sozinha — e que, para isso, pode escolher se vulnerabilizar com quem é digno da sua confiança.
Amor não é só cuidado — é também admiração, inspiração, desejo, respeito. E o Dia dos Namorados pode ser uma excelente oportunidade para que os casais reflitam: ainda nos admiramos? Ainda nos vemos como parceiros? Ou estamos apenas dividindo responsabilidades?
“Estar casado não é sinônimo de ter deixado de ser namorado. O verdadeiro desafio é continuar enamorado apesar da rotina, das dores e da passagem do tempo.”
Que cada um reflita: em meu relacionamento, ainda há espaço para o amor adulto, aquele que respeita, admira e deseja? Ou deixamos que o vínculo se perdesse na zona de conforto dos papéis mal definidos?
Texto muito relevante. As relações precisam ter significados. A cada amor cabe seu conceito.